A origem e o desenvolvimento da indústria de animação japonesa.
A palavra animê define os desenhos animados japoneses e surgiu de uma abreviação do termo em inglês "animation". A maioria das pessoas no Brasil fala “anime” (como paroxítona), reflexo de leituras equivocadas no passado de publicações em inglês (que não usa acentuação) sobre o assunto. As duas formas podem ser aceitas, uma por ser mais correta e a outra, consagrada pelo uso popular.
Seja como for o nome, os desenhos animados japoneses se tornaram febre mundial, sendo um dos mais importantes produtos japoneses de exportação. Sua indústria é repleta de grandes sucessos comerciais e artísticos e sua trajetória remonta mais de um século.
ORIGENS E DADOS HISTÓRICOS
A animação é uma arte das mais populares do mundo, especialmente entre crianças, mas é uma forma de entretenimento antiga e com muitos estilos e formas. Em termos de pioneirismo no aspecto internacional, o primeiro curta animado amplamente reconhecido data de 1906. É o curta de 3 minutos Humorous Phases of Funny Faces, do americano J. Stuart Blackton. Isso também tem seus contestadores, pois há registros de testes de animação feitos na Alemanha, por volta de 1899.
No Japão, a arte de dar sensação de movimento a imagens estáticas começou a se desenvolver de forma experimental em algum ponto no começo do século XX. A data de produção do primeiro curta-metragem experimental de animação no Japão é, até o momento, desconhecida, pois numerosos registros se perderam. O Grande Terremoto de Kanto, ocorrido em 1 de setembro de 1923, vitimou mais de 140 mil pessoas e destruiu incontáveis tesouros do início das mídias audiovisuais no Japão. Além disso, os ataques sofridos na Segunda Guerra Mundial, especialmente o Grande Bombardeio de Tokyo em 1945, também destruíram um tanto de outros registros, fora os mais de 100 mil mortos. Sobre o que sobrou, historiadores têm debatido sobre qual poderia ser considerado o "marco zero" da animação no Japão.
Relatos dão conta de títulos desconhecidos ou perdidos que teriam sido mostrados na década de 1910 (ou até antes). E há também discussões sobre aceitar como animação alguns filmes live-action com trucagens de animação, ou uso de bonecos movidos por fios ou por stop-motion. São animações, mas não necessariamente desenhos animados, sendo mais próximas de produções de efeitos especiais.
Em meio às discussões, vários pesquisadores chegaram a um consenso sobre o mais antigo registro sobre um curta de animação japonesa em condições minimamente confiáveis. O título é Imokawa Mukuzō Genkanban no Maki, ou “A História do Recepcionista Mukuzô Imokawa”), de 1917. A obra teria cerca de um a dois minutos de duração e era uma vinheta cômica do personagem de mangá Mukuzô Imokawa, do cartunista Outen Shimokawa (1892~1973) - também conhecido como Hekoten Shimokawa - para o estúdio Tenkatsu. A técnica usada inicialmente era desenhar a cena em uma lousa, filmar, depois apagar e desenhar com uma pose ligeiramente diferente e assim por diante até conseguir o efeito de movimento desejado. Essa era, inclusive, uma das técnicas de Stuart Blackton. Outros desenhos do personagem Mukuzô Imokawa resistiram ao tempo, mas não o primeiro deles. Shimokawa foi um respeitado chargista da revista Tokyo Puck, além de um dos maiores pioneiros da animação em seu país. Outros nomes importantes do período foram os dos cartunistas Junichi Kouchi (1886~1970) e Seitarô Kitayama (1888~1945), que deram notáveis contribuições técnicas para os primórdios da animação no Japão. É de Kitayama uma adaptação da lenda de Urashima Tarô, datada de 1918.
O celebrado curta de Outen Shimokawa teria sido exibido pela primeira vez em janeiro de 1917 e no ano de 2017 toda a mídia japonesa comemorou o centenário do animê, com eventos, programas de TV e muitas homenagens por todo o país. No entanto, pesquisas posteriores indicaram que foi na verdade exibido em abril daquele ano, sendo que em fevereiro teria sido exibido outro título, o Dekobou Shin-gachou: Meian no Shippai (ou “Novo Álbum de Imagens: Falha de boas ideias”), outra obra de Outen Shimokawa. Mas enquanto se debate a real data ou qual obra seria a pioneira, Genkanban no Maki já havia sido alardeado como o primeiro animê de todos os tempos.
Além disso, pesquisadores já descobriram animações produzidas no Japão ao longo da primeira década do século XX, ou seja, antes dos trabalhos de Shimokawa.
Uma dessas animações experimentais chama-se Katsudô Shashin (algo como “Foto em Movimento”), um teste de apenas alguns segundos. O filme foi descoberto em 2005 e pesquisas indicaram que ele teria sido feito em 1907. O termo katsudô shashin, inclusive, era usado para designar a própria mídia cinema, entre o final do século XIX e início do séc. XX. Essa ligeira animação pode ter sido criada como uma vinheta de abertura de filme, mas não foram encontrados registros de autoria e nem documentos sobre sua exibição pública, se é que aconteceu mesmo.
Sem ao menos um registro oficial, tudo fica no campo das especulações para reconhecer Katsudô Shashin como obra pioneira, apesar de se saber que foi anterior ao trabalho de Shimokawa. O poder econômico, sem dúvida, influencia até o reconhecimento de registros históricos.
PRIMEIRO LONGA-METRAGEM PARA CINEMA
Momotarô Umi no Shinpei (1945) - Com cerca de 74 minutos de duração, o animê Momotarô Umi no Shinpei (ou “Momotarô - Guerreiros Divinos do Mar”) foi escrito e dirigido por Mitsuyo Seo (1911~2010), tendo sido encomendado pela Marinha Imperial como parte da propaganda de guerra. Mostra a expectativa, preparativos e a rotina da guerra, com muitas canções infantis e um clima de heroísmo e determinação para incentivar os jovens a lutar pelo Imperador. Esse filme é a continuação de um média-metragem (37 min.) lançado em 1943, intitulado Momotarô no Umiwashi (ou “Momotarô - Águias do Mar”), que mostrava o herói Momotarô e seus amigos atacando a base americana de Pearl Harbor. Porém, Umi no Shinpei foi lançado em abril de 1945, quando a guerra já estava perdida e o Japão agonizava. Muitos guias apontam erroneamente Umi no Shinpei como o primeiro animê produzido profissionalmente no Japão. Não foi, mas ainda detém a marca de ter sido o primeiro longa-metragem, ainda que fosse propaganda de guerra encomendada pelo governo.
PRIMEIRO LONGA COMERCIAL E COLORIDO NO PÓS-GUERRA
Hakujaden (1958) - Primeiro longa de animação colorido, Hakujaden (ou "A Lenda da Serpente Branca) foi dirigido por Taiji Yabushita (1903~1986) e marcou a entrada da Toei Animation no mercado. Como produtora e distribuidora de cinema, a Toei Company já existia desde 1950 e não poupou esforços para produzir uma obra capaz de encantar o público. Saiu em vídeo VHS no Brasil como O Panda e a Serpente Mágica na década de 1980 e estreou no Japão em 22/10/1958. Um guia, publicado em 2000 pela revista especializada Animedia (Ed. Gakken) lista Hakujaden como o primeiro animê comercial para cinema. A mesma lista inclui depois curta-metragens, o que faz pensar se não deveria ter incluído curtas de 11 a 15 minutos do personagem Norakuro, o primeiro deles datando de 1933.
CONQUISTANDO ESPAÇOS NA TV
Instant History e Manga Calendar – Amplamente reconhecida como obra fundamental da animação japonesa, Instant History estreou em 01/05/1961 na Fuji TV, totalizando 312 vinhetas de 3 minutos cada consistia em curtas animados sobre datas comemorativas ou momentos relevantes da História da humanidade. O título original depois foi alterado para Manga Calendar, sendo tambem conhecida como Otogi Manga Calendar. No novo formato, a produção estreou em 25/06/1962 no canal TBS, sempre com produção da Otogi Pro, e durou mais 54 episódios. Não por acaso, os desenhos animados no Japão foram chamados, até meados dos anos 1980, de “Terebi Manga”, ou “mangá de TV”. A já citada revista Animedia, em um guia de referência publicado em 2000, considera apenas a fase Manga Calendar como o início da indústria do animê para TV. Este redator, inclusive, sempre levou em consideração a data divulgada na Animedia, mostrando que até referências japonesas respeitadas cometem erros ou escolhem um lado na hora de interpretar fatos históricos. No caso, levaram em consideração o formato mais próximo ao de um programa regular ou seriado.
A primeira série com personagens fixos foi Tetsuwan Atom, conhecido no resto do mundo como Astro Boy. Criação de Osamu Tezuka com seu estúdio Mushi Pro, é conhecido no ocidente como Astro Boy. A série, produzida pela Mushi Pro, estreou na Fuji TV em 01/01/1963. O enredo, dramático e cheio de altruísmo, contém o pacifismo e humanismo que marcaram a trajetória de Tezuka. O autor era agnóstico mas, à época de seu falecimento, estava envolvido em uma adaptação de parte da Bíblia em animê, projeto concluído anos depois.
Com o sucesso de Atom, cada vez mais séries foram sendo produzidas, como Tetsujin 28 Gou (Homem de Aço), Eight Man (Oitavo Homem), Skyers 5 (Taro Kid), Jungle Taitei (Kimba, O Leão Branco) e outros. Em 1967, a Tatsunoko Pro lançou a série sobre automobilismo Mach Go Go Go, que se tornou sucesso mundial em sua versão rebatizada nos EUA como Speed Racer. Mas, com todos os nomes de personagens alterados para soarem como ocidentais, muita gente nem soube que se tratava de uma animação japonesa.
Um entusiasta da arte da animação, Tezuka também produziu várias animações experimentais. Ele deixou uma obra vasta e com uma variedade temática sem paralelos até hoje. Foi aclamado o Deus do Mangá e sua influência é sentida até hoje. Porém, mesmo com sua imensa influência e respeitabilidade perante a imprensa e a sociedade, o animê ainda estava muito associado à ideia de produções basicamente infantis, ainda que muitas fossem diversão para toda a família. Isso mudaria de modo intenso no final da década de 1970.
O YAMATO E O ANIME BOOM: A EXPLOSÃO DOS DESENHOS ANIMADOS
A percepção do público e da sociedade japonesa de um modo geral começou a mudar bastante na década de 1970, com o sucesso de Uchuu Senkan Yamato (Encouraçado Espacial Yamato), conhecido no Brasil como Patrulha Estelar. A trama futurista mostrava a humanidade enfrentando, com a poderosa nave Yamato (Argo, no ocidente), os invasores espaciais do Império Gamilon (Gamiras). Bombardeada com radiação, a esperança da humanidade reside no Cosmo Cleaner oferecido pela Rainha Star-Sha, do distante planeta Iskandar. A série de TV original, produzida pela Office Academy e concebida por Yoshinobu Nishizaki (1934~2010) e Leiji Matsumoto teve 26 episódios em 1974 e não repercutiu muito, tendo uma média de audiência de 7%. Além da trama complexa para crianças, havia a concorrência, no mesmo horário, de Heidi (Alps no Shojo Heidi), série extremamente popular na época. [Nota: Heidi passou no Brasil, em 1981, no Programa Silvio Santos, na TVS (atual SBT) e TV Record].
Posteriormente, uma compilação dos episódios de Yamato foi lançada em cinemas e obteve uma repercussão inesperada em 1977. Somente em 1978 o primeiro Star Wars iria estrear no Japão, mas já se sabia que uma aventura com batalhas espaciais estava sendo um sucesso no mundo todo. Seja como for, um público novo descobriu o animê e isso mudaria os rumos da indústria cultural japonesa. Mesmo com uma animação limitada, o Yamato foi valorizado em tela grande, com seus belos cenários espaciais e a empolgante trilha sonora de Hiroshi Miyagawa. Os universitários e o público jovem adulto (incluindo o feminino) descobriram um animê sobre o qual podiam conversar de modo mais profundo.
Com o sucesso, teve início a produção de um longa especialmente para cinema, Sarabá Uchuu Senkan Yamato - Ai no Senshi tachi ("Adeus, Encouraçado Espacial Yamato - Guerreiros do Amor"), lançado em 1978. Com produção caprichada, a saga do Cometa Império levou milhões de pessoas aos cinemas, deflagrando o que foi chamado de Yamatomania, ou Yamato Boom, mas logo esse conceito evoluiu para o Anime Boom, uma explosão da produção de animês que movimentou a indústria de seu país, mas com o Yamato sempre no centro das atenções. Estava firmada a ideia de que poderiam ser feitos animês especialmente para o público jovem e adulto. Fã-clubes apareceram, fanzines dedicados ao Yamato se espalharam e isso ajudou a formar a primeira geração otaku, definida em 1983 pelo jornalista Akio Nakamori. O Yamato virou febre nacional, mas o final do filme era trágico, do tipo que não dá margem para continuações com os mesmos personagens de sucesso, o que poderia ter encerrado a emergente franquia. Então, o produtor e cocriador Yoshinobu Nishizaki optou por considerar aquela aventura uma "história alternativa", não-canônica e iniciou uma série de TV baseada no enredo do longa, com várias reformulações e desenvolvimentos diferentes. Nascia a série Yamato 2, que foi a mesma vista no Brasil através da extinta TV Manchete, nos anos 1980. O primeiro episódio estreou em 14 de outubro de 1978 na TV Yomiuri e deu 24% de audiência no Japão, um feito memorável que efetivamente decretou o Anime Boom, pois outros estúdios e emissoras de TV começaram a investir em novas séries animadas. Na época da série I, em 1974 havia 17 séries de animê em produção. Depois do Yamato 2, o número chegou a 38 séries em 1979. O crescimento, entretanto, foi desordenado, sobrecarregando os estúdios e seus desenhistas, diretores e roteiristas. Como resultado, muitas séries com produção descuidada e sem planejamento foram produzidas, com vários cancelamentos que provocaram retração do mercado em pouco tempo. Porém, em meio a isso, muitos desenhistas habilidosos se aprimoraram, elevando o nível técnico geral. Isso acabou criando problemas, pois os desenhistas ficaram tecnicamente melhores e mais rápidos num momento em que a indústria diminuiu sensivelmente após a onda de crescimento inflacionado causado no Anime Boom.
Mas em 1982, com o sucesso de Macross (Cho-jikuu Yousai Macross), um novo Anime Boom voltou a mover a indústria, desta vez com mais consistência, levando à realização de mais de 40 séries em 1983.
Produção icônica do estúdio Tatsunoko Pro, Macross apresentou grandes batalhas espaciais como pano de fundo para uma história de romance bem meloso, embalado por músicas pop cantadas pela estrela emergente Mari Iijima. A combinação de tudo isso, mais o elegante traço do desenhista Haruhiko Mikimoto, conquistaram o Japão, dando novo impulso à indústria.
Tal euforia só seria sentida novamente em 1995, com o estouro de Evangelion (Shin Seiki Evangelion), este um produto já feito para fãs hardcore de animê, mas que também extrapolou fronteiras. Criação do Studio Gainax, Evangelion trazia toda uma carga de complexidade, violência e até sensualidade que capturaram um grande e já segmentado público otaku.
Talvez seja exagero falar em um terceiro Anime Boom causado por Evangelion. mas o fato é que o título impulsionou a indústria, à época com cerca de 60 séries em produção. Atualmente, cada estação do ano vê a estreia de cerca de 40 a 50 séries (ou mais até), muitas delas sendo produtos da segmentação, com títulos de exibição noturna ou de madrugada, com abordagens adultas e de curta duração (12 a 13 episódios) tendo em vista os gostos do público otaku.
O advento do streaming também abriu espaço para séries feitas para a internet, como as produzidas sob encomenda da Netflix. O mercado se expandiu e segmentou-se em extremo, o que também tem seus críticos, como o diretor Hayao Miyazaki, que já cansou de apontar problemas em uma indústria quase hermética, feita em sua maioria por otakus e para otakus.
CONQUISTANDO O BRASIL
Desenhos animados japoneses são conhecidos no Brasil desde o final dos anos 1960, quando desembarcaram aqui títulos como O Oitavo Homem (Eight Man), Homem de Aço (Tetsujin Niju Hachi Go), A Princesa e o Cavaleiro (Ribbon no Kishi), Speed Racer (Maha Go Go Go), Fantomas (Ogon Batto), Shadow Boy (Bouken Shonen Shaddar), Sawamu – O Demolidor (Kick no Oni), O Judoca (Kurenai Sanshiro) e tantos outros.
Ao longo da década de 1970, muitas animações japonesas eram exibidas no Brasil, bem como produções de tokusatsu. Dentre todos, o mais famoso certamente foi o Speed Racer, exibidos em muitos canais durante décadas, tendo sido citado inclusive como uma influência para o lendário piloto brasileiro Ayrton Senna (1960~1994).
Na década de 1980, obras como Candy Candy, Angel (Hana no Ko LunLun), Rei Arthur (Entaku no Kishi Monogatari – Moerô Arthur), Zillion (Akai Koudan Zillion), Patrulha Estelar (Uchuu Senkan Yamato), O Pirata do Espaço (Groizer X) e outros mantiveram a chama dos animês acesa. Além disso, o crescente mercado de fitas VHS (que seria substituído até o final dos anos 90 pelo DVD) trouxe obras como Capitão Harlock e sua nave Arcadia (Waga seishun no Arcadia), Baldios - Guerreiros do Espaço (Uchuu Senshi Baldios), Comando Dolbuck (Tokusou Kihei Dorvack), Macross – A Batalha Final (Macross – Ai oboeteimasuka?) e outros.
O sucesso mundial do sofisticado longa AKIRA (1988), de Katsuhiro Otomo, se repetiu no Brasil, com o animê sendo exibido brevemente nos cinemas em 1992, algo inédito na época em se tratando de circuito comercial. Lembrando que, em São Paulo, existiram até meados dos anos 80 cinemas ligados à colônia japonesa, com destaque para o Cine Niterói, que além e filmes de época (Jidai geki), exibiu longas de animê e tokusatsu para um público um tanto restrito.
Desenhos animados japoneses viraram febre e mania nacional somente após os Cavaleiros do Zodíaco, que chegou ao Brasil em 1994 e detonou uma explosão de popularidade na extinta TV Manchete, que já tinha longa tradição de exibir produções japonesas. Logo, vieram outros animês, detonando uma grande febre. Dragon Ball, As Aventuras de Fly (Dai no Daibouken), Shurato (Tenku Senki Shurato), Digimon (Digimon Adventure), Samurai Warriors (Yoroiden Samurai Troopers), Rayearth (Mahô Kishi Rayearth), Street Fighter II-V, Sailor Moon (Bishojo Senshi Sailor Moon) e outros foram criando legiões de fãs. Posteriormente, Yu Yu Hakusho, Pokémon (Pocket Monster) e Dragon Ball Z manteriam o interesse do público.
Porém, a moda foi passando ao longo da primeira década do novo século, e os animês foram sumindo da TV. Mesmo os populares Naruto e One Piece teriam vida breve na TV, pois no geral o interesse das emissoras por animês havia diminuído, graças às quedas em audiência.
Durante um bom tempo, o fandom brasileiro só tinha como se manter consumindo material novo através de fansubs (grupos de fãs que fazem suas próprias legendas e distribuem material). A expansão da internet em banda larga e a chegada do streaming oficial iria novamente chacoalhar o público. De modo inédito, centenas de produções passaram a ser vistas oficialmente no país. Além dos serviços especializados Crunchyroll e Funimation, os serviços Netflix, Amazon Prime Video e Pluto TV possuem diversas produções japonesas em seus catálogos.
Com o advento do streaming, Naruto, One Piece, Attack on Titan, Demon Slayer – Kimetsu no Yaiba, The Promised Neverland, Naruto Shippuden, Boruto, Jujutsu Kaisen e outros seriam vistos pelo público ocidental quase que simultaneamente ao público japonês.
O animê, assim como o mangá, é uma fonte inesgotável de histórias. Existe o mais comercial, feito mais pra vender brinquedos, mas tem muita coisa autoral e um animê até já ganhou o Oscar, no caso A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi), em 2003. Miyazaki é certamente o mais cultuado diretor japonês de animês, mas também merecem grande destaque nomes como Isao Takahata (seu sócio no Ghibli), Gisaburo Sugii, e Makoto Shinkai, que encantou o mundo com seu longa Your Name (Kimi no Na wa), de 2016.
Em vários países, o animê é sucesso entre várias faixas etárias, suscitando paixões arrebatadoras e intensas discussões sobre seu teor muitas vezes violento e sexualizado. Tais discussões não são novidade, sempre estiveram presentes mesmo no Japão, mas com a adoção do politicamente correto como régua moral na mídia, governos e sociedade, pressões cada vez maiores são feitas sobre produtores e autores japoneses.
Equilibrar as demandas e visões do mercado interno enquanto encara uma expansão e exposição internacional cada vez maior, e encontrar alternativas de mercado (como cortes de certas cenas e classificações etárias), tem sido um desafio para os estúdios, distribuidores e criadores japoneses. Tudo isso enquanto tenta manter seus talentos em atividade e motivados, pois a indústria do animê se tornou conhecida por explorar seus profissionais até o limite da exaustão, com justa remuneração somente para poucos.
Por ter que lidar com questões políticas delicadas enquanto preserva seus valores próprios de liberdade criativa, o animê, ainda mais do que o mangá, encara grandes desafios para o futuro.
-------------------------------------------------------------------
::: E X T R A S :::
1) 100 Years of Anime
- Vídeo que encerrou as comemorações do ano do Centenário do Animê em 2017. A canção foi gravada como parte das festividades e se chama "Tsubasa wo motsu mono ("Aqueles com asas") - Not an angel, just a dreamer". Os cantores representam a nata dos intérpretes de anime songs, do passado e presente, conforme você pode conferir no segundo vídeo.
2) "Tsubasa wo Motsu Mono ~ Not an angel Just a dreamer~"
Letra: Aki Hata, Seiko Fujibayashi / Melodia: Kôhei Tanaka, Noriasu Agematsu
Intérpretes: i☆Ris , Azumi Inoue、Wake Up, Girls!、Maaya Uchida、Akira Kushida、GRANRODEO、Isao Sasaki、Hiro Shimono、 JAM Project 、Konomi Suzuki、Kenichi Suzumura、Ayana Takematsu、Minori Chihara、TRUE、Toshiyuki Toyanaga、Shoko Nakagawa、Wataru Hatano、Mitsuko Horie、Minami、Ichirou Mizuki、Suzuko Mimori、May’n、Chihiro Yonekura