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Ale Nagado

CYBERCOP - Os Policiais do Futuro

Uma das mais divertidas séries exibidas nos áureos tempos da TV Manchete.

Júpiter, Marte, Mercúrio e Saturno.

Durante a febre de super-heróis japoneses iniciada por Jaspion e Changeman no final dos anos 1980, uma das séries mais interessantes a passar na antiga TV Manchete foi Cybercop - Os Policiais do Futuro. Produção da poderosa Toho Company, o projeto recebeu orçamento bem modesto, compensado com um monte de ideias criativas, um roteiro que soube explorar bem seus personagens e um elenco que funcionava muito bem. 


O resultado foi uma pequena pérola das séries tokusatsu, com ação, drama e muito humor, parte dele involuntário devido aos grotescos "defeitos especiais". Foi uma das séries mais subestimadas de seu tempo e que merece ser lembrada.


A trama se passa na virada para o século XXI (o futuro próximo de quando a série foi filmada, entre 1988 e 89), em Neo Tóquio, que seria uma evolução da Tóquio "normal". Nessa realidade, a força policial possui uma divisão especial chamada ZAC - Zero-Section Armed Constable, que tem como força de ataque os Cybercops, um grupo de policiais de elite com armaduras especiais. 

Mercúrio, Júpiter, Tomoko, Marte e Saturno.

Sob as ordens do Capitão Oda e a oficial Shimazu, a equipe é composta por Marte), Takeda (Júpiter), Ryoichi (Saturno) e Ossamu (Mercúrio), apoiados pela policial Tomoko. Na base, ainda ficam o mestre de informática Yazawa e a oficial de comunicações Miho


A Unidade Marte foi a primeira armadura cyber a ser construída. Tem grande força física, mas sua blindagem é considerada mais vulnerável em comparação com os outros. Saturno tem blindagem pesada e baixa mobilidade em relação aos demais, por conta de um grande número de radares e sensores embutidos em sua unidade. Mercúrio, de blindagem leve, é o mais ágil e veloz, sendo capaz de correr próximo à velocidade do som em linha reta.


Forte, ágil e resistente na mesma medida, Júpiter é o mais poderoso dos quatro agentes, graças à Cyber Força, poderoso recurso de sua armadura, que veio com ele de um futuro sombrio dominado pelas máquinas. Em momentos de grande perigo, Júpiter pode invocar a Cyber Força, quando sua Unidade Júpiter assume uma configuração especial e ele empunha o Cyber Thunder Arm, um disparador de raios mais destruidor do que a pesada bazuca Cyber Fire Slugger, normalmente usada por Marte.


Todos utilizam uma variedade de amas especiais que são enviadas por dutos subterrâneos em Neo Tóquio, mediante ativação pelos Cyber Cards.

Akira, Takeda, Cap. Oda, Tomoko, Ossamu e Ryoichi.

Uma policial que cuida de investigações e apoio de campo, Tomoko deveria receber a Unidade Vênus, mas o departamento de polícia ficou sem verba suficiente construir sua armadura, o que parece uma metáfora em metalinguagem. Assim, ela teve que se contentar em operar a cabine de transformação dos demais e auxiliar nas investigações e no apoio geral. Tomoko é equilibrada e ajuda a manter o grupo unido. Akira, o líder de campo do grupo, é temperamental e ranzinza, sempre entrando em atrito com o impulsivo Takeda. Em contrapartida, Ryoichi é sossegado, mulherengo e tirador de sarro, enquanto Ossamu é mais tímido e inseguro. Em ação, no entanto, a integração entre eles é impecável. 


Inicialmente projetados para combater ameaças urbanas e terroristas, sua missão se torna combater a organização criminosa Deathtrap. A ameaça é liderada pelo computador vivo Führer e seu braço direito, o ardiloso Barão Kageyama, um traidor das forças da humanidade vindo do futuro. A Deathtrap conta com um trio de cientistas malignos: Prof. PloidMadame Durwin e Dr. Eishtein, que criam robôs para atacar Neo-Tokyo. Além dos robôs das linhagens Harkos, Ominos e Garoga, há também os soldados siliconioides, que são robôs de aparência humana, exceto pelos olhos cheios de circuitos, ocultos por óculos escuros. 

Lúcifer: o pior dos inimigos em seu surgimento.

Também vindo do futuro, o implacável Lúcifer - mais poderoso que todos os outros - surge primeiro como inimigo em busca de vingança contra Júpiter, a quem considera um traidor. Ele derrota individualmente os heróis e desencadeia a maior crise enfrentada pelo ZAC até então. Com o tempo, ele descobre as armações de Deathtrap e se torna um aliado dos heróis. Quando isso ocorre, seu capacete muda de configuração. Sem necessidade de uma cabine de transformação, com armamento pesado e capaz de se teleportar, Lúcifer está em um degrau acima de todos os demais, incluindo Júpiter. Quando ele passa para o lado dos heróis, obriga a Deathtrap a aumentar seus esforços de dominação.


A despeito de ser uma série de ação e aventura com personagens super poderosos, o grande atrativo de Cybercop foi mostrar o cotidiano e a interação entre os personagens. E nesse aspecto, havia espaço para muito humor e diversão. A produção também tinha seus momentos sérios, episódios tristes e o drama evolui para um dos melhores finais daquela década.


PRODUÇÃO E REPERCUSSÃO


Produzido com efeitos especiais constrangedores mesmo para a época, Cybercop foi o primeiro seriado de tokusatsu a usar filmagem em vídeo. Isso foi feito para baratear os custos de produção, quando o padrão de TV na época era a película de 16 mm (diferente do cinema, que tinha por padrão 35 mm). Ainda assim, a imagem brilhante que resultou ajudou a criar uma atmosfera diferente para a série.

Júpiter e Lúcifer: guerreiros do futuro.

Ainda na fase de produção do episódio piloto, a Toho filmou um curta-metragem de ação em película (veja nos extras desta postagem), no qual os Cybercops agiam como um grupo Super Sentai, fazendo poses e dando cambalhotas. Não agradou e resolveram tentar um caminho bem diferente, fugindo dos clichês da concorrente Toei e adotando uma filmagem mais barata. 


Não que a Toho não tivesse dinheiro ou estivesse mal das pernas, apenas não quiseram liberar muita verba de produção (talvez por não acreditar que desse muito retorno financeiro) e usaram uma equipe inexperiente, que viu em Cybercop a chance de experimentar e aprender muito. 


A Toho é uma potência cinematográfica japonesa e estava, em 1988, na fase de preparação de Godzilla vs Biollante (1989), filme que daria sequência ao remake do Rei dos Monstros, de 1984.


Fundada em 1932, a empresa, que é tanto produtora quanto distribuidora de cinema e TV, tem em seu acervo obras de alguns dos maiores cineastas japoneses. Projetou o tokusatsu com seu Godzilla original em 1954, seguido por muitos outros monstros e filmes de ficção científica. Nos anos 1970, emplacaram algumas séries de TV de super-heróis, como Ike! Godman (1972), Ryuusei Ningen Zone (73), Hikari no Senshi Diamond Eye (73), Megaloman (79) e alguns outros. 


Cybercop foi uma tentativa da Toho em retomar espaço na TV, que nos anos 80 foi totalmente dominado pela Toei Company. Voltariam ao tokusatsu para TV anos depois com Guyferd (1996) e Godzilla Island (97). Depois, tentariam novamente em 2003, com Gransazer, seguido por Justirisers (2004), Sazer-X (05) e Kawaii! Jenny (07). 

Livro infantil da época, com os heróis e seus inimigos.

O diretor e supervisor geral, Hirochika Muraishi (1947~2022) ganhou reconhecimento em 1996 como o principal diretor de Ultraman Tiga, grande sucesso na época. Ele foi também um dos diretores de efeitos especiais nessa série que renovou a franquia Ultra. Muraishi levaria os atores principais de Cybercop para participações nas séries de Ultraman Tiga, Dyna e Gaia, graças ao prestígio que conquistou.


Cybercop foi o trabalho de estreia de Mika Chiba, na época com 16 anos. Boa cantora, interpretou o tema de encerramento Shooting Star. Outra música cantada por ela foi Brand New Tomorrow, que toca no fim da série. Depois, ela começou carreira como cantora pop. Em 2004, Mika atuou na série Gransazer (também da Toho), como a personagem Karin. Algum tempo depois, saiu da área artística. Mas de todos os envolvidos na produção, triste fim teve um dos heróis principais da série.


O ator Shogo Shiotani (Akira/ Marte) teve uma carreira modesta, encerrada em um ato de desespero. Frustrado, depressivo e sem ter conseguido se estabelecer como ator bem sucedido, Shogo Shiotani cometeu suicídio em 2002, quando tinha apenas 35 anos. Após esse trágico acontecimento, um diretor amigo do ator vazou em um blog a informação de que Shogo Shiotani tentou oferecer à Toho, sem sucesso, ideias sobre uma nova série Cybercop, mas isso não é uma informação tida como oficial. De qualquer forma, a série nunca esteve nos planos da empresa para uma continuação ou reboot, pois não correspondeu às expectativas em seu lançamento.


Cybercop começou com 6% de audiência e chegou a 8,2% (uma audiência excelente), mas foi caindo e nem a mudança de dia e horário que teve depois do episódio 24 ajudaram. A série terminou com modestos 3,6% de audiência, segundo levantamento da revista Newtype. Teve uma pequena adaptação em mangá infantil, produzida por Minoru Nonaka, um dos criadores da série. Diversos brinquedos foram lançados, mas o título não gerou os lucros de merchandising que necessitava para ter uma sobrevida ou séries derivadas. Após os 34 episódios do enredo, outros dois foram exibidos no Japão, nos quais os atores principais apareciam mostrando os melhores momentos da série, escolhidos pelos fãs. Por causa desses especiais, algumas listagens descrevem Cybercop como tendo 36 episódios. Cybercop teve fãs fervorosos e até fanzines foram produzidos no Japão em homenagem a eles, mas no geral não teve grande repercussão, o que é uma pena. No Brasil, a história foi outra. 

O mangá de Minoru Nonaka e uma capa da versão brasileira, com arte de Aluir Amâncio.

A PASSAGEM PELO BRASIL


No Brasil, estreou em 12 de outubro de 1990, com grande divulgação na TV Manchete, canal que o exibiu até março de 1995. Cybercop veio pela N Sato - Brazil Home Video, a empresa que, nos anos 1980, lançou em fitas VHS animês como Capitão Harlock e a Nave Arcádia, Baldios - Os Guerreiros do Espaço e Macross - A Batalha Final. Também conseguiu a proeza de lançar o animê AKIRA, obra-prima de Katsuhiro Otomo, em alguns cinemas em 1991, graças ao sucesso que a aventura obteve nos EUA e Europa. Com Cybercop, a N Sato tentava o rico filão que fora inaugurado pela Everest Vídeo, com Jaspion e Changeman. Posteriormente, a empresa mudou o nome para Sato Company.

A série sempre se chamou Cybercop (no singular), mas a grande maioria do público brasileiro se lembra dela como "Cybercops" em suas memórias de infância. Ao se referir aos personagens, aí é correto chamá-los de "Cybercops".

Cybercop ficou várias vezes entre os cinco programas mais vistos da Manchete, alcançando a boa audiência de 3% de televisores ligados nos horários em que era exibido. Mas o excesso de reprises e a insistência da distribuidora em segurar os quatro últimos episódios (incluindo o eletrizante arco duplo final) na TV Manchete acabaram por cansar o público. 


Os episódios finais dublados vazaram para alguns fãs e colecionadores. A série seria reprisada em algumas emissoras pelo país, mas sem registro em DVD ou exibição em streaming para as novas gerações.


Tendo tido muito mais repercussão no Brasil do que no Japão, Cybercop teve álbum de figurinhas lançado pela Ed. Abril, além de histórias em quadrinhos originais feitas por autores nacionais para o selo Abril Jovem entre 1991 e 93. Os trajes originais foram trazidos do Japão e várias apresentações circenses foram feitas, usando dublês brasileiros. Alguns bonecos simples chegaram ao mercado, mas pouco foi explorado do potencial dos personagens, apesar da série ter feito muitos fãs no Brasil. 


Cybercop foi uma série criativa e muito divertida. O fato de não ter tido o sucesso merecido em seu país de origem não tira suas imensas qualidades. Se tivesse recebido um orçamento melhor, se a Toho tivesse acreditado mais no potencial do título, teria sido um clássico de seu tempo em seu país. Ao menos no Brasil, a série tem esse merecido reconhecimento. Agradecimentos: Usys222 e Matheus Mossman

CURIOSIDADE:

Ilustração de Tamotsu Shinohara, imaginando como poderia ser a Unidade Vênus (à esq.), além de novos equipamentos para os heróis. Arte, de página dupla, foi publicada na revista Uchusen 102, de 2002 (Editora Asahi Sonorama).


::: FICHA TÉCNICA :::

CYBERCOP - Os Policiais do Futuro

Título original: Den-nou Keissatsu Cybercop ~ 電脳警察サイバーコップ

Estreia no Japão: 24/ 01/ 1988 (TV Nihon)

Total: 34 episódios + 1 especial de apresentação e 2 especiais recap (eps. 35 e 36) Emissoras no Brasil: TV Manchete, CNT (PR), Ulbra TV (RS), TV Diário (CE), Cinehouse ~ TecSat, ISTV

Versão brasileira: BKS


EQUIPE DE PRODUÇÃO Planejamento: Kazuo Shimamura (Yomiuri), Katsumi Nagayama (Toho Planning)

Cooperação de planejamento: Minoru Nonaka (Shigeru Pro) Composição da série: Junki Takegami Supervisão da série: Hirochika Muraishi

Roteiro: Kazuhiko Goudo, Junki Takegami, Shikichi Oohashi, Hiroshi Toda

Trilha sonora: Ichirou Nitta

Design de armaduras, uniformes e robôs: Minoru Nonaka, Submarine e Shôhei Obara

Design de Luna: Mutsumi Inomata

Direção: Hirochika Muraishi, Kiyotaka Matsumoto, Yoshiki Kitamura, Michio Hirata, Toshio Oi

Produtores: Toru Horikoshi (NTV), Seiji Ishikawa (Yomiuri), Mitsuru Toriumi, Masayuki Takubo (Toho), Tetsuya Kobayashi (Studio Jump)

Planejamento e produção: Nihon TV

Realização: Toho, Studio Jump, Yomiuri Advertising


ELENCO

Shinya Takeda/ Júpiter: Tomonori Yoshida Tomoko Uesugi: Mika Chiba

Akira Hojo/ Marte: Shogo Shiotani

Ryoichi Mouri/ Saturno: Ryuji Mizumoto (atualmente, Tom Saeba)

Osamu Saionji/ Mercúrio: Ryoma Sassaki

Capitão Hisagi Oda: Massaki Daimon

Tenente Mizue Shimazu: Shigeko Mita

Miho Asakuza: Hiromi Oonishi

Daisuke Yazawa: Massaru Matsuda

Lúcifer: Takashi Koura

Barão Kageyama: Jinya Sato

Prof. Ploid: Ken Okabe

Dr. Eishtein: Takaaki Kitagawa

Madame Durwin: Tomoko Ishimura

Luna: Massako Takeda Führer: Goro Mutsu Júpiter (suit actor): Riichi Seike

Capa de um CD com a trilha sonora da série.

::: E X T R A S :::

[ 1 ] Cybercop: Episódio-piloto

Teste de filmagem em película feito pela Toho. No início, os produtores pensaram em uma movimentação influenciada por Super Sentai, mas a ideia felizmente foi abandonada.


[ 2 ] A cantora Tomoko:

Aqui, vemos a atriz Mika Chiba cantando e dançando "Brand new tomorrow" em um programa de TV em 1989. Lançada em maio de 1989, chegou à posição 72 na parada de sucessos de acordo com a empresa Oricon. A performance tem aquela típica pronúncia errada de inglês tão comum no pop japonês, ainda mais naquela época.


A canção tocou no final do último episódio de Cybercop, exibido em junho de 89. Ou seja, a série ajudou a divulgar o lançamento. Foi o segundo single da moça, sendo que o primeiro foi "Shooting Star", o tema de enceramento da série, lançado no ano anterior.

"Brand-new tomorrow" 

Letra: Shun Taguchi / Melodia: VAX POP / Arranjo: Kunihiko Ryou Intérprete: Mika Chiba


 

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