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Fantomas - O Guerreiro da Justiça

Vamos relembrar as aventuras do super-herói que anunciava sua presença com uma sinistra gargalhada.

Fantomas, o primeiro super-herói a ser criado.

O mais antigo super-herói do mundo, Fantomas, possui uma trajetória ligada ao desenvolvimento das mídias da cultura pop japonesa. Evoluindo a partir de histórias ilustradas apresentadas para pequenos grupos de crianças até ganhar o mundo com uma famosa série de animação, Fantomas tem uma longa história em seu país. No Brasil, seu animê foi um grande sucesso na década de 1970, e essa série é o ponto de partida nesta investigação sobre um dos mais poderosos e emblemáticos super-heróis da Terra do Sol Nascente. "ZEEEEEROOO!"

Comandando soldados mercenários, monstros e robôs de sua nave Torre Zero, o cientista renegado Dr. Zero (ou Dr. Nazô, no original) almeja conquistar o mundo. Suas criações poderosas podem subjugar as forças armadas da Terra, mas surge uma esperança.

Precursor dos super-heróis, Fantomas permanece até hoje um dos mais poderosos personagens da cultura pop.

O pesquisador e aventureiro Dr. Steel viaja o mundo com seu filho Terry e seu ajudante Gabi a bordo do Super-Carro, uma nave circular altamente avançada semelhante a um disco voador. Steele salva Marie, uma garota que estava à deriva no mar, após um naufrágio causado por uma das máquinas de guerra de Zero, a Mão Gigante. No incidente, ela perdeu seu pai, o cientista Dr. Miller, que pesquisava sobre o continente perdido da Atlântida.

Eles chegam a uma ilha que havia emergido do fundo do mar e lá encontram um misterioso caixão empoeirado, com um homem dourado com rosto de caveira e uma capa negra. Surgem os homens de Zero perseguindo o grupo de Steel. Quando Marie joga água sobre o misterioso corpo, ele desperta e rapidamente se livra dos soldados, demonstrando uma fração de seu grande poder.

"Zeeeeeeerooo!" - Com quatro olhos, uma garra no lugar da mão esquerda e sem pernas, preso a uma plataforma, o cientista representa a tecnologia voltada para o mal.

Milenar guerreiro criado pelo povo da lendária Atlântida, o poderoso Fantomas (no original, Ogon Batto - "Morcego Dourado") desperta nos dias de hoje e enfrenta as forças do sinistro Dr. Zero, 10.000 anos após ter lutado em sua primeira missão. Em gratidão por ter sido desperto por Marie, Fantomas torna-se protetor dela e de seus amigos.

Sempre que invocado pela garota, surge o Morceguinho Dourado, o mensageiro que é seguido pela risada que assusta os malfeitores. O animal místico precede a aparição de Fantomas e se transforma na tatuagem negra no braço esquerdo do herói (que, a bem da verdade, muitas vezes era esquecida pelos desenhistas da animação). Dotado de grande força, poder de voo, invulnerabilidade, poderes sobre o clima e capaz de viajar entre dimensões, Fantomas possui uma clava mágica, que ele usa como espada e para lançar raios destruidores.

Fantomas enfrenta o Dr. Morte, seu mais poderoso rival.

Incansável, ele enfrenta uma grande infinidade de monstros, robôs e guerreiros enviados pelo Dr. Zero, como o Vampiro, o Máscara Negra e sua Arma da Quinta Dimensão, o robô de batalha Gato Preto, o Homem Leão, as Crianças Newton e muitas outras ameaças. Aparentemente, o único modo de vencer Fantomas é com a desidratação de seu corpo através de métodos artificiais. Mesmo assim, a água pode despertá-lo novamente. Em termos de ação, uma coisa interessante era a variedade de ameaças contra as quais ele lutava, com rivais de tamanho humano e também monstros gigantes e máquinas de guerra.


O maior dos rivais para Fantomas é o ser que motivou sua criação na Atlântida: o Dr. Morte (ou Kurayami Batto - Morcego Das Trevas, no original), que também revive nos tempos modernos para uma revanche. Dono de força igual e armado com uma clava que se transforma em uma serpente mágica, o Dr. Morte é um poder temido até mesmo pelo Dr. Zero, que tenta em vão controlá-lo.

O Ogon Batto original, de Takeo Nagamatsu. Havia algo de desajeitado nele, talvez para não assustar muito as crianças.

Em versões posteriores, o Dr. Zero teria quatro olhos. Fantomas e Morte travam duelos memoráveis em três episódios da série, incluindo seu apoteótico final. No episódio 52, os vilões finalmente encontram seu fim e o herói se retira para descansar até ser necessário novamente.

HERÓI DE UMA MÍDIA ESQUECIDA

Criado por Takeo Nagamatsu (1912~1961) e Ichiro Suzuki (que sairia de cena logo no começo), o herói tinha suas histórias contadas no chamado kamishibai, uma diversão popular entre as crianças japonesas na primeira metade do século XX. Consistia em um contador de histórias que entretinha as crianças narrando e mostrando quadros ilustrados, um a um, de aventuras com personagens variados. Era um autêntico "teatro de papel". Os shows eram gratuitos e itinerantes, sendo que o artista ganhava a vida vendendo doces e guloseimas a quem vinha assistir sua contação de histórias.

Uma representação de como era o kamishibai. Repare na figura em destaque no quadro exposto.

Nagamatsu era um desses contadores de histórias e seu Ogon Batto seria plagiado algumas vezes, de tão popular que se tornou desde sua estreia, em 1931. O herói, desde o começo, é um guerreiro vindo do continente lendário da Atlântida e possui super-força, poder de voo e vários recursos especiais, vivendo escondido uma base de operações secreta nos Alpes Japoneses e usa uma roupa medieval. Assim, ele pode ser apontado como o primeiro super-herói da cultura pop, visto que o Superman só viria a estrear nos quadrinhos em 1938. O primeiro mangá oficial do personagem, ainda numa época em que contratos de licenciamento eram muito vagos, foi assinado por Yusuke Yuasa em 1935. Depois, Masaru Hara faria outra versão em 1947. Esse ano, inclusive, foi marcante para que o personagem ficasse bastante popular nos quadrinhos japoneses.

O traço realista de Takeo Nagamatsu. Uma curiosidade: A armadura que a menina está usando lembra alguma outra, mais moderna, de um certo herói da Marvel? Nunca se soube de alguma conexão ou referência.

No mesmo ano, o próprio Takeo Nagamatsu produziu sua primeira versão oficial em mangá do Ogon Batto, praticamente na mesma época em que saiu a interpretação do lendário Osamu Tezuka. A versão de Tezuka era intitulada Kaitô Ogon Batto - "O Ladrão Morcego Dourado", indicando tratar-se de uma adaptação bem livre.


Muitos outros volumes seriam lançados posteriormente, incluindo alguns assinados por Takeo Nagamatsu, cujo traço havia evoluído para um elegante desenho realista, exatamente o oposto da linguagem mais estilizada desenvolvida por Tezuka.

À esquerda, o Ogon Batto de Takeo Nagamatsu. Ao lado, a versão de Osamu Tezuka (1947).

Em 1950, veio o primeiro filme do herói, Ogon Batto - Matenrôu no kaijin (O monstro do edifício), dirigido por Toshio Shimura. No longa de 71 minutos produzido pelo estúdio Shin Eiga-sha, o herói ainda usa o visual original do kamishibai e do mangá. A trama apresentava o herói atlante tentando evitar que uma invenção ainda mais poderosa que a bomba atômica caia nas mãos do Dr. Nazô. O filme teve a participação marcante da então jovem estrela Hibari Misora (1937~89), que se tornaria uma das mais famosas cantoras do país.

Cartaz do filme de 1950. A menina no canto direito é Hibari Misora, lembrada até hoje como a maior cantora do estilo enka.

A CONSAGRAÇÃO

A versão seguinte do Ogon Batto iria enfatizar ainda mais o lado misterioso e sobrenatural do personagem. Em 1966, veio a segunda e mais icônica adaptação em live-action, já com extenso uso de efeitos especiais, direção de Hajime Sato (1929~1995) e produção da Toei Company em colaboração com a Dai Ichi Animation. O traje europeu medieval deu lugar a um corpo metalizado, com uma caveira sinistra e sem chapéu, mas com uma capa vermelha e preta no melhor estilo Conde Drácula. No filme, que mostra o herói despertando no presente para enfrentar as forças do Dr. Nazô, há uma equipe de agentes com armas especiais, liderados pelo Dr. Yamatone (o Dr. Steel na versão ocidental), interpretado pelo astro Sonny Chiba (1931~2021), o primeiro grande astro de ação japonês. A cereja do bolo é a estilosa canção-tema, com letra assinada coletivamente pela empresa Dai Ichi, melodia de Masashi Tanaka e interpretação do grupo Vocal Shop (com a risada emblemática por Osamu Kobayashi). Grupo de alguma projeção em seu tempo, o Vocal Shop também cantou os temas de abertura de Speed Racer, Iron Man 28 e várias outras produções. Com 73 minutos de duração, o filme estreou com alarde em 21 de dezembro de 1966, já preparando caminho para a primeira série de TV do personagem, que seria em formato animê.


Distribuído em vários países, o nome da série e do personagem foram alterados. Na Itália, foi lançado como Il Ritorno de Diavolik, com o herói sendo pintado de vermelho nas imagens promocionais. Nos EUA e em países de língua inglesa, o nome utilizado foi Fantaman - Golden Ninja. Para fins de registro, vale ressaltar que Fantomas teve filmes não-oficiais (e horrorosos) produzidos na Coréia do Sul, a exemplo do que também aconteceu com Dragon Ball.

O cartaz do filme de 1966, um clássico da Toei Company.

Trazendo um aperfeiçoamento do visual metálico do cinema e ao som de sua estilosa música tema, a série animada de Fantomas foi um sucesso entre a garotada, atingindo 52 episódios.


Com produção da Dai Ichi Animation, estreou em 1º de abril de 1967 e foi até março de 1968. Na época do animê, adaptações fieis em mangá foram produzidas para as revistas Shonen Gahou e Shonen King. Infelizmente, Takeo Nagamatsu não viveu para curtir esse sucesso todo, pois faleceu com apenas 49 anos em 1961, vítima de câncer.

Fantomas, astro dos ringues.

No Brasil, a animação foi exibida com sucesso nos anos 1970, com o título do animê sendo apresentado como Fantaman (um dos títulos internacionais, vale lembrar) na abertura, mas nos episódios o nome do herói ficou sendo Fantomas.


Essa característica é exclusiva do Brasil e foi feita para aproveitar a semelhança com o nome do personagem de luta-livre vivido entre 1963 e 1975 no programa Gigantes do Ringue, onde era interpretado pelo lutador José Carlos Pereira.


O lutador brasileiro Fantomas tinha um estilo próprio, com movimentos duros e golpes rápidos. Usava uma máscara de caveira estilizada e chegou a usar uma capa negra para se apresentar ao público. Já o nome é uma adaptação brasileira, derivada do ladrão mascarado Fantôme ("Fantasma"), personagem literário francês que inspirou um filme em 1913. Exibido na TV Record, Fantomas integrou a primeira grande leva de sucessos da TV japonesa no Brasil, ficando no ar pelo menos até o final da década de 1970.

A versão moderna, que infelizmente não foi produzida.

No início de 2000, chegou a ser anunciada uma nova versão do herói, Ogon Batto Millenium, com produção do estúdio AIC. Um teaser trailer chegou a ser divulgado, mas infelizmente o projeto não foi para a frente. Ao longo dos anos, Fantomas teve diversas adaptações, paródias, homenagens e referências na cultura pop japonesa e também em outros países. Ainda é lembrado, mesmo décadas após sua última versão oficial ter sido lançada. Já passou da hora do primeiro super-herói da cultura pop mundial voltar à ação, fazendo ecoar a implacável e triunfante gargalhada da justiça.


Capa de um disco de 1967 com a música-tema do herói.

::: FICHA TÉCNICA :::


Título: Fantomas - O Guerreiro da Justiça Título original: Ogon Batto ~ 黄金 バット ("Morcego Dourado") Exibição original: 01/ 04/ 1967 (Japão)

Emissora no Brasil: TV Record Número de episódios: 52 Equipe de produção Criação: Takeo Nagamatsu Roteiro: Chiho Katsura e outros. Trilha sonora: Masashi Tanaka, I Bonjo Direção: Noboru Ishiguro, Tadao Wakabayashi, Yujiro Yanagida e outros. Realização: Dai Ichi Doga (Dai Ichi Animation) Versão brasileira: CineCastro


Elenco (vozes originais) Dr. Yamatone (Dr. Steele): Ichirou Murakoshi Mari (Marie): Minori Matsushima e Youko Kuri Takeru Yamatone (Terry): Kazue Takahashi Dareo (Gabi): Kazuya Tatekabe Nazô (Dr. Zero): Oshio Shima Mazô (Gorpo): Kenji Utsumi Ogon Batto (Fantomas): Osamu Kobayashi Narrador: Yuzuru Fujimoto [Nota: Os nomes originais aparecem entre parênteses.]

::: VIDEOS SELECIONADOS :::

1) A abertura original, que não foi exibida no Brasil. Título da música: Ogon Batto no Utá ("Canção do Morcego Dourado") Letra: Dai Ichi Animation / Melodia: Masashi Tanaka Interpretação: Vocal Shop

2) Ogon Batto (Movie)


- Trailer da versão tokusatsu para cinema de 1966. A reformulação visual e a criação da música-tema foram feitos pela Toei em parceria com a Dai Ichi Animation, preparando o terreno para a série em animê que sairia já no ano seguinte. No Brasil, saiu em DVD pela Cult Classic.

3) A versão Millenium (2000), que teve somente o teaser abaixo produzido antes do projeto ser abandonado. Produção: Studio AIC


4) Matéria no Canal Túnel do Tempo TV sobre o clássico animê:


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