O enredo, os bastidores e a trajetória de um dos maiores clássicos do tokusatsu nos anos 80.
Vivendo escondida nos subterrâneos, a seita Gorgom prepara-se para o surgimento de seu Imperador Secular. Escolhidos segundo critérios místicos, dois jovens devem lutar até a morte para suceder o Grande Rei, uma entidade misteriosa que comanda monstros e almeja controlar a humanidade. A seita possui um exército de monstros, bem como humanos que são obedientes aos três grandes sacerdotes.
Usando planos ardilosos para atingir seus objetivos, os três sacerdotes Gorgom são: Danker, Baraom e Pérola, e a eles cabe conduzir os acontecimentos para a criação dos candidatos a Imperador Secular.
Em Tokyo, o cientista Souichirou Akizuki é procurado pela seita Gorgom e faz um pacto de obediência com eles em troca de ajuda para suas dificuldades financeiras. Seu sócio, o dr. Masato Minami, se posiciona contra essa aproximação. Os sacerdotes estão interessados em Issamu Minami e Nobuhiko Akizuki, os filhos dos cientistas. Nascidos na mesma noite, durante um eclipse solar, ambos preenchem os requisitos para um dia pleitearem a liderança dos Gorgom.
Após a morte do casal Masato e Tomoko Minami, o Dr. Akizuki acabou adotando o pequeno Issamu (chamado de Kohtaro no original), que estava então com três anos, e o criou junto com seus filhos Nobuhiko e Kyoko. Os jovens crescem cercados de luxo, em uma vida sem grandes preocupações. Issamu entra para a Faculdade de Letras e Nobuhiko, para a de Ciências, sendo que ambos participam do clube de futebol da universidade. A vida parece tranquila, mas o pesadelo começa em um momento que deveria ser de festa.
Quando Issamu e Nobuhiko completam 19 anos, comemorados em uma festa marcada por acontecimentos estranhos, os Gorgom sequestraram os dois para transformá-los nos dois candidatos a Imperador Secular Gorgom. Uma vez transformados em homens-mutantes e tendo as mentes reprogramadas pelos sacerdotes, eles devem duelar até a morte para que um deles possa reinar sobre um exército de monstros e conquistar a Terra.
Eles recebem em seus corpos as esferas King Stone, fontes de enorme poder. Então, o arrependido Dr. Akizuki aparece para atrapalhar a operação e, na confusão, apenas Issamu consegue fugir; levando consigo a moto viva Battle Hopper, que havia sido criada pelos Gorgom para o novo imperador.
Pouco depois de contar a história por trás dos terríveis acontecimentos em sua família, o Dr. Akizuki é assassinado por monstros de Gorgom e Issamu, com o poder do King Stone, se transforma em Black Kamen Rider, iniciando sua batalha contra o mal.
O herói tem superforça, resistência, sentidos ampliados e pode dar saltos de até 30 metros, além de ter um elo mental com Battle Hopper. Issamu se transforma ao dizer a palavra “henshin” ("transformação"), que ativa a energia do King Stone. Através de seu cinturão, a energia pode ser emitida através de clarões cegantes ou do Raio King Stone. Concentrando energia nos pés e mãos, Black aplica poderosos golpes, como o Golpe Insectus ("Rider Punch" no original) e o Golpe Louva-a-Deus ("Rider Kick").
[Nota do autor: Ao aparecer transformado, o herói é chamado pelos Gorgom de Senhor Black, na verdade um erro de tradução da versão brasileira. No original, ele é chamado de Black Sun ("Sol Negro"), um nome que combina com o de seu futuro rival, Shadow Moon. Mas como "san", em japonês, é pronome de tratamento, a tradução brasileira achou que Black Sun seria Black San (mesma sonoridade), daí a origem do "Senhor Black".]
Issamu e Kyoko fogem da antiga casa e buscam refúgio na cafeteria e loja de mergulho Capitola, propriedade de Ishida, um antigo amigo da família. Ishida aproveita a chegada deles e resolve realizar o sonho de viajar e praticar mergulho, deixando o negócio com eles. Kyoko, que ao fugir dos Gorgom é forçada a abandonar os estudos no segundo ano do ensino médio, passa a cuidar da lanchonete, com a ajuda de Issamu. A namorada de Nobuhiko, Satie, resolve ficar perto eles, na esperança de ter notícias de seu amado. Com o tempo, ela acaba abandonando o segundo ano da Faculdade de Ciências, onde conheceu Nobuhiko, e ajuda a tomar conta da cafeteria.
Além dos sacerdotes Danker, Baraom e Pérola, Black encara também o Cavaleiro Taurus e uma infinidade de monstros mutantes. Muitos humanos, como o cientista Dr. Kuromatsu, também fazem parte dos Gorgom, agindo infiltrados na sociedade humana.
Ao longo de suas batalhas, Black também passa a contar com a moto computadorizada Lord Sector (Road Sector), criada por um cientista traidor dos Gorgom.
Entre os amigos e aliados que conhece, Issamu recebe, em duas ocasiões, a ajuda do habilidoso agente da Interpol, Suda Ryosuke, um velho amigo de Nobuhiko. Do lado dos Gorgom, surge o cavaleiro Taurus, um arrogante e ambicioso guerreiro cuja função, à sua revelia, é preparar a chegada de Shadow Moon.
Após longa preparação, Nobuhiko tem sua memória apagada e renasce como Shadow Moon, para desespero de Issamu, Kyoko e Satie. Sem qualquer traço de humanidade, Shadow Moon prepara o terreno para um confronto decisivo com BLACK, enquanto o Grande Rei se revela na forma de um gigantesco coração negro carregado de energia. O confronto entre os irmãos irá decidir o destino da humanidade.
BASTIDORES DA PRODUÇÃO
A franquia Kamen Rider estava fora da TV japonesa desde o filme Kamen Rider ZX, em 1984. Por iniciativa do produtor Susumu Yoshikawa, o homem que coordenou a criação do Policial do Espaço Gavan, a Toei preparou o retorno da franquia à TV. Como a cor preta estava na moda, a ideia foi apresentar um homem-inseto dessa cor e isso motivou uma apresentação mais sombria.
O renomado criador e desenhista Shotaro Ishinomori esboçou a história básica e se dedicou a produzir uma série em mangá para a popular revista semanal Shonen Sunday, da editora Shogakukan. Com um desenvolvimento bastante diferente, a série mostra um herói totalmente monstruoso, cuja forma é vista de relance somente no primeiro episódio e é mostrada de relance na cena de transformação.
Usando de poderes psíquicos e força bruta ampliada por suas garras, o Black do mangá luta de forma selvagem. Não existe Shadow Moon no mangá, e Nobuhiko se torna um ser idêntico a Black. Tudo bem diferente do visual mais famoso concebido por Katsushi Murakami. No total, foram seis volumes com a história completa, que foi reeditada várias vezes e com diferentes formatos ao longo do tempo.
Ishinomori ainda gravou uma participação como ator no primeiro especial de cinema e escreveu a letra de 4 canções da série. Desde o Kamen Rider original ele não se envolvia tanto com a franquia.
Outras versões em mangá, mais fiéis à série de TV, foram lançadas em diferentes revistas, como a CoroCoro Comic (ed. Shogakukan). Até mesmo um romance literário foi publicado, com o título Mad Soldier, uma aventura não filmada de Black.
Para dar a partida na saga, foi chamado o roteirista Shozo Uehara, veterano do tokusatsu, que acabou participando pouco, devido a divergências com produtores. Ainda assim, ele escreveu os primeiros 4 episódios, mais o episódio 12 e o primeiro especial de cinema. O diretor Yoshiaki Kobayashi, convocado somente para abrir a série, se esmerou e entregou um primeiro episódio absolutamente brilhante, com atmosfera e produção que não conseguiriam ser superados em todo o curso da produção.
Destaque no elenco, o ator e modelo Tetsuo Kurata, na época com 18 anos, foi escolhido numa seleção de atores que atraiu mais de 8.000 candidatos aos papéis principais. Kurata também cantou a música de abertura, além de "Ore no Seishun", tocada no primeiro especial de cinema e no último episódio.
Kurata teve depois uma carreira de prestígio, mas se preparou para as oscilações da vida artística. Comprou a steak house Billy The Kid, que frequentava durantes as filmagens, administrando o estabelecimento até hoje com sua família. Em paralelo, trabalha ainda como ator e atende eventos pelo mundo onde desfruta do sucesso de seu trabalho como um dos mais cultuados Kamen Riders. O elenco ainda teve a figura ilustre de Susumu Kurobe, que interpretou Hayata na série do Ultraman original, como o sinistro Dr. Kuromatsu.
Com bons índices de audiência, a série teve média de 9,2% e pico de 11,8%. Infelizmente, os capítulos finais apresentaram queda de audiência, e a série fechou com 6,9%, mas isso não atrapalhou uma continuação com o mesmo protagonista.
ALÉM DA SÉRIE CLÁSSICA
No Japão, BLACK teve também dois especiais de cinema trazendo histórias inéditas filmadas durante a série, mas consideradas fora da cronologia "canônica". Os especiais fizeram parte do Manga Matsuri ("Festival do Mangá") da Toei, que exibia episódios especiais de suas séries em andamento. Houve também dois especiais de TV na época. O primeiro, considerado um "episódio zero", trazia os bastidores da produção e antecedeu a série. O segundo, após o final, apresentava todos os Kamen Riders, como uma recapitulação acompanhada de uma prévia do próximo. Em seguida, teve início o que seria chamado no ocidente de segundo ano da série, intitulado Kamen Rider BLACK RX, com novas formas para o herói e um novo inimigo, fazendo a audiência subir novamente. A saga de BLACK RX também foi exibida com sucesso no Brasil e é outra produção bastante lembrada pelos fãs saudosistas.
BLACK, depois da transformação em RX, quase foi esquecido pela Toei em muitos materiais de licenciamento. O herói apareceu num curta-metragem de RX no qual o herói viaja no tempo e se alia a si próprio para enfrentar uma combinação de inimigos. O recurso de colocar BLACK e BLACK RX lado a lado seria usado outras vezes no futuro.
Em 2009, a série Kamen Rider Decade apresentou um herói que viaja por dimensões e mundo paralelos. Em uma dessas dimensões alternativas (ep. 26), Decade se encontra com um Issamu Minami que se transformara em RX e continuava lutando contra o Império Crisis por 20 anos. Em seguida, encontra outro Issamu Minami de um mundo paralelo que ainda era o BLACK e nunca havia se tornado RX. No clímax dessa aventura (ep. 27), as duas versões paralelas de Issamu Minami se reúnem e lutam lado a lado. Era a primeira vez que Tetsuo Kurata voltava ao papel desde o fim da série. A partir de então, com a adoção da ideia de versões de mundos alternativos, seria comum ver BLACK e RX juntos, sempre nos especiais de cinema da franquia, onde dezenas de Kamen Riders se encontram. Shadow Moon também apareceria muitas vezes em filmes da franquia, mas nunca mais vivido pelo ator original.
Tetsuo Kurata voltaria a ter destaque como Kamen Rider BLACK em 2015, no filme Super Hero Taisen GP - Kamen Rider San Gou (ou "A Guerra dos Super-Heróis Grand Prix - Kamen Rider 3").
No Japão, o público aguarda ansiosamente o remake da série de BLACK, que irá estrear em 2022, com direção do renomado Kazuya Shiraishi. O título será Kamen Rider BLACK SUN, e deve ser algo mais próximo ou do mangá de Ishinomori, ou dos planos originais da série, que previam algo bem mais sombrio, no clima dos dois primeiros episódios.
TRAJETÓRIA NO BRASIL
Black fez sucesso em sua exibição na TV Manchete, tendo estreado em 1991 com o estranho título BLACK MAN. Na série, pelo menos, ele era chamado de Black Kamen Rider, o que é bem próximo do nome original. O lançamento foi da Tikara Filmes, antiga Everest Vídeo, que promoveu o lançamento junto com Spielvan e Maskman. Brinquedos foram lançados pela Glasslite, Black teve páginas no álbum de figurinhas Jaspion 2 - Spielvan e ganhou versão em quadrinhos na Editora Abril, com histórias produzidas por autores como Marcelo Cassaro e Watson Portela.
Infelizmente, o final da série não foi exibido e nunca foi dada uma explicação satisfatória, mas o fato é que o mesmo não chegou a ser dublado na época e a fita original provavelmente se extraviou quando as mídias foram enviadas para o Brasil. Lembrando que eram tempos de mídias físicas, no caso fitas Master, semelhantes a fitas VHS.
Com a boa repercussão e audiência de Jaspion, Changeman e Jiraiya, exibidos na BAND em 2020, a atual representante dessas séries, a Sato Company, se empenhou em trazer o Black de volta. Finalmente, BLACK estreou na Band em 30 de agosto de 2020.
Como grande atrativo, o empresário Nelson Sato havia anunciado que seria mantida a dublagem original e que o capítulo 51 foi finalmente dublado no Brasil. Para isso, anunciaram tentar o máximo de fidelidade ao trabalho clássico, chamando novamente Elcio Sodré para a voz de Issamu Minami/ BLACK e Francisco Brêtas para Shadow Moon. No entanto, um desacordo entre o dublador Elcio Sodré e a Sato Company acerca do pagamento de direitos conexos - uma modalidade trabalhista que existe legalmente - acabou inviabilizando a continuidade da exibição. Somente os dois primeiros episódios foram transmitidos. Mais recentemente, a série apareceu, somente em versão legendada, nos serviços de streaming gratuito da Pluto TV e da Vix.
No início de 2021, a editora brasileira NewPOP anunciou o lançamento do mangá original de Black, em três volumes, na sequência do mangá do primeiro Kamen Rider, sendo ambos os únicos heróis da franquia com histórias produzidas pelo criador.
Até hoje, BLACK permanece como um dos mais queridos super-heróis japoneses já exibidos no Brasil. Não se trata de um fenômeno local, pois também é bastante lembrado e cultuado no Japão, décadas após sua estreia. Mesmo com altos e baixos, uma grande série de uma época bastante produtiva para a Toei Company.
::: FICHA TÉCNICA :::
Título original: Kamen Rider BLACK
Estreia no Japão: 04/ 10/ 1987 (TBS)
Número de episódios: 51 EQUIPE DE PRODUÇÃO História original: Shotaro Ishinomori
Roteiro: Shozo Uehara, Junichi Miyashita, Kyouko Sagiyama, Noboru Sugimura e outros Character design: Katsushi Murakami (BLACK e Shadow Moon), Keita Amemiya (monstros)
Trilha sonora: Eiji Kawamura
Efeitos especiais: Nobuo Yajima
Ilustrações: Ryu Noguchi Coreografia (direção de ação): Osamu Kaneda, Jun Murakami (JAC)
Direção: Yoshiaki Kobayashi (ep. 1), Makoto Tsuji, Massao Minowa e outros.
Produtores: Susumu Yoshikawa, Nagafumi Hori (Toei), Ryo Iguchi e Nayoshi Yamada (Mainichi Housou)
Realização: Toei Company, Mainichi Housou Emissoras no Brasil (principais): TV Manchete (1991), Ulbra TV (2010) e Band TV (2020) Versão brasileira: Alamo (eps. 1~50) e Estúdio Centauro (ep. 51) ELENCO
Observações: 1- Quando diferente, o nome original do personagem aparece entre parênteses. 2- Participações destacadas, porém curtas, estão indicadas por episódio.
Kohtaro Minami (Issamu Minami)/ Kamen Rider BLACK [voz]: Tetsuo Kurata
Nobuhiko Akizuki: Takahito Horiuchi (eps. 1, 2, 17, 34 e 47)
Kyoko Akizuki: Akemi Inoue
Satie (Katsumi Kida): Ayumi Taguchi
Danker (Darom) [voz]: Shozo Iizuka
Baraon: Toshimichi Takahashi
Pérola (Beshium): Hitomi Mei
Taurus (Bilgenia): Toru Yoshida (eps. 19 a 23, 25 a 35)
Souichiro Akizuki: Kantarou Suga (eps. 1 e 2)
Hideomi Kuromatsu: Susumu Kurobe (eps. 2 a 4, 10, 14 e 19)
Kouichi Oomiya: Harukazu Kitami (eps. 2, 3 e 7)
Ryuuzaburou Sakata: Koreharu Hisatomi (eps. 2, 5, 6, 8 e 38)
Ishida (Masaru Todou): Sento (eps. 2 e 10)
Suda Ryosuke (Ryosuke Taki): Masaki Kyomoto (eps. 16 e 30)
Kamen Rider BLACK [suit actor]: Jiro Okamoto
Shadow Moon [suit actors]: Jiro Okamoto, Tokio Iwata, Toshiyuki Kikuchi
Shadow Moon [voz]: Masaki Terasoma
Dublês: Japan Action Club
Narradores: Kyoshi Kobayashi e Issei Masamune
::: Action Figures :::
Confira nos links baixo os posts do blog Casa do Boneco Mecânico, com ensaios fotográficos de action figures importadas do Japão e recheadas de informações sobre os personagens.
Alexandre Nagado
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