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Ale Nagado

Metal Hero: Tecnologia e ação!

Mesmo não sendo uma franquia oficial, os heróis metálicos da Toei Company formam uma das linhagens mais queridas entre os fãs de tokusatsu!

O Policial do Espaço Gavan, tendo atrás de si Jaspion, Sharivan, Spielvan e Shaider.

No mundo dos super-heróis do tokusatsu, os efeitos especiais japoneses, o personagem número um para os fãs brasileiros é O Fantástico Jaspion, que chegou ao Brasil em 1988 junto com o Esquadrão Relâmpago Changeman. O sucesso sem precedentes de Jaspion fez as emissoras brasileiras trazerem os heróis similares a ele que o antecederam e também seus sucessores diretos na TV japonesa, todos produzidos pela Toei Company.

Em uma área que hoje é dominada por grandes marcas, como Ultraman, Kamen Rider e Super Sentai, a franquia mais querida do público brasileiro atende pelo nome de Metal Hero, que abriga Jaspion, Jiraiya, Sharivan, Winspector e outros. Mas, tal franquia não existe de fato, sendo uma denominação informal que teve origem no meio dos fãs japoneses e acabou sendo aceita pela produtora. No jargão da cultura pop, ou da cultura nerd/geek/otaku, a própria palavra "franquia" se popularizou bastante nos últimos anos, mas poucos sabem sua origem e significado.

ENTENDENDO O QUE É FRANQUIA


Tradução direta de "franchise", o termo "franquia" vem do mundo dos negócios e do marketing, e indica quando uma marca, produto ou serviço é licenciado por diferentes pessoas jurídicas. É um modelo de negócios que lida com marcas, patentes e pagamento de direitos. Como exemplo, podemos citar uma rede de fast food como o McDonald´s, que tem lanchonetes espalhadas pelo mundo. Qualquer pessoa que desejar abrir uma filial da famosa lanchonete para administrar deve submeter um pedido a uma central de negócios e atender às exigências, que incluem uma estimativa de faturamento (vinculada, no caso, à população de sua cidade), bem como comprometimento contratual de seguir à risca os padrões de qualidade, programação visual e manual de procedimentos da empresa.

"Franquia" vem de "franchise", um termo do mundo dos negócios.

Levando isso para o mundo do entretenimento, temos o licenciamento de produções e produtos envolvendo personagens. Pegue a marca Pokémon, por exemplo. Uma fábrica de camisetas que queira estampar os personagens oficialmente em seus produtos, deve procurar o escritório de licenciamento correspondente e fazer os procedimentos jurídicos. Foi assim que Pokémon, que surgiu nos games, também ganhou versões em animê e mangá, tudo mediante contratos comerciais. Se tem produtos licenciados, é franquia.

Em 1990, a Tikara Filmes e a Alien International licenciaram a marca Jaspion para a Editora Abril, após passagem pela Editora EBAL, para produzir com autores nacionais a revista em quadrinhos oficial do herói, que ainda traria outros personagens licenciados junto à Toei. Isso fora brinquedos, camisetas, máscaras e fitas de vídeo lançadas na época. Assim, Jaspion é uma franquia, um universo ficcional e também uma marca, assim como Pokémon.


FRANQUIAS OU UNIVERSOS?


Uma obra que exista em várias mídias diferentes é sempre uma franquia, mas já vi pessoas se referirem a uma obra que só existe em mangá ou tokusatsu como sendo uma franquia, o que é totalmente equivocado. Se ninguém ainda licenciou para outras mídias ou versões, e somente o autor original está produzindo, não é uma franquia.


Quando existem produtos de merchandising (roupas, bonecos, etc...), para a série ou personagem, já dá pra chamar de franquia, apesar disso não ser muito usado na prática. E existem franquias gigantescas, que na verdade agregam outras franquias que se sustentam por si próprias, como a Liga da Justiça, que agrega Batman, Superman, Mulher Maravilha, Aquaman e Flash, todos eles com quadrinhos (de onde surgiram, aliás), filmes, séries e animações independentes da Liga. Se lembrarmos do Universo Marvel, mais até do que o Universo DC, teremos uma medida sobre as proporções de grandes marcas. Ninguém se refere à Marvel e DC como sendo franquias, mas sim como "universos" (ok, "multiversos") ou mesmo marcas, que é o que elas são de fato.

Gavan, Sharivan, Shaider, Jaspion e Spielvan.

Assim, "franquia" é um termo banalizado e geralmente impreciso, sendo que, na maioria dos casos, as pessoas usam a palavra para se referir a um universo ficcional compartilhado, como acontece com Star Wars, por exemplo. Experimente, por exemplo, trocar "franquia" por "universo" ou "linhagem" e veja se não faz mais sentido.


DE GAVAN A ROBOTACK


Voltando ao caso dos Metal Heroes, o precursor deles foi o Uchuu Keiji Gavan, ou "Policial do Espaço Gavan", de 1982. Projeto arrojado, seu sucesso se deve a muitos profissionais criativos, com destaque para o produtor Susumu Yoshikawa (1935~2020), o roteirista Shozo Uehara (1937~2020) e o desenhista Katsushi Murakami. Seu sucessor direto foi Sharivan (1983), seguido por Shaider (84). Esses três são os Uchuu Keiji, que constituem uma pequena franquia, com um universo compartilhado que só foi retomado em 2012 com a volta de Gavan.

Jaspion contra seu rival MacGaren. Série de 1985 foi uma febre no Brasil.

Jaspion (1985) veio em seguida, mas este não seguia a mesma cronologia, o mesmo universo, apenas tinha um design similar. Idem para Spielvan (86), que de tão parecido visualmente foi até batizado no Brasil de Jaspion 2 - Spielvan.


Em 1987, houve uma grande mudança de estilo visual e narrativo, com o advento de Metalder - O Homem Máquina. Depois dele, veio Jiraiya - O Incrível Ninja (1988), uma retomada do tema clássico do herói ninja. Jiraiya usava uma "armadura" com partes de couro e alguns adereços metálicos.


Consta que, devido a seu sucesso, seria sucedido por um outro ninja, mas o sucesso mundial de Robocop incentivou a Toei a buscar um similar infantil, o que deu origem ao Policial de Aço Jiban (89), um herói tecnológico. Entre Jiraiya e Jiban há uma tênue ligação, graças à participação do jovem ninja Manabu, em um episódio do Policial de Aço.

As equiper Rescue Police: Winspector, Solbrain e Exceedraft

Em 1990, veio o Esquadrão Especial Winpector, com grande mudança narrativa, o que agradou em cheio o público e acabou inaugurando a linha Rescue Police. Winspector foi sucedido por Solbrain (1991) e Exceedraft (92), formando assim a segunda trilogia de heróis metálicos. Assim como os Uchuu Keiji, os Rescue Police formam uma franquia independente.


Uma nova reviravolta no estilo de produção veio com Janperson (93), um herói robótico como Jiban, porém sem uma identidade humana. Em 1994, a Toei emplacou outro acerto, com Blue SWAT, trazendo designs mais realistas com seus heróis com protetores metálicos (colete e capacete) que não constituíam exatamente o que se pode chamar de armadura. Em 1995, o estilo de herói de armadura completa voltou com B-Fighter, sucedido por BF Kabuto (96). Em B-Fighter, o final da saga reúne os heróis das duas séries anteriores, em um encontro antológico que mostrou esses heróis como parte de uma mesma continuidade.

As séries seguintes, B-Robo Kabutack (97) e Tetsuwan Tantei Robotack (98) traziam personagens metálicos, mas eram propostas mais voltadas à comédia infantil com toques de aventura, algo talvez mais próximo da linha Fushigi Comedy ("Comédias Maravilhosas") de Shotaro Ishinomori. Por esse motivo, muitos fãs não consideram essas séries como sendo Metal Heroes.

No início, a Toei não usava ou reconhecia o termo Metal Hero Series. Essa definição surgiu no meio dos fãs japoneses, que chamavam assim a coletividade dos heróis produzidos de Gavan a BF Kabuto, ou de Gavan a Robotack, mesmo que Jiraiya dificilmente pudesse ser chamado de "herói metálico".

Um livro oficial reconhecendo o universo Metal Hero.

O RECONHECIMENTO DA TOEI


Ao longo do tempo, a empresa percebeu que seria interessante usar a nomenclatura dos fãs para fortalecer os personagens e, nos anos 90, surgiram as primeiras coletâneas em vídeo, livros e CDs que usavam os termos Metal Hero, Metal Heroes ou Metal Hero Series. Porém, vale lembrar que a Toei nunca tratou esses heróis como sendo de uma mesma linhagem (como Kamen Rider, por exemplo), mas um conjunto de heróis soltos e outros interligados em linhagens próprias.


Gavan é sempre lembrado como o primeiro da trilogia Uchuu Keiji ("Policial do Espaço"), da mesma forma que Winspector inaugurou a trilogia Rescue Police. B-Fighter e BF Kabuto também integram uma única continuidade (as equipes se encontram, inclusive) e são frequentemente associados. Isso sem contar os já citados crossovers.

Sharivan (Next Generation), Gavan Type G, Gavan e Shaider (Next Generation), os Policiais do Espaço.

Em 2012, para os 30 anos de Gavan, a Toei trouxe de volta o herói clássico e apresentou seu sucessor, o Gavan Type-G, que estreou em Gavan The Movie e depois participou de várias produções. O filme apresentou os novos Sharivan e Shaider, que depois estrelariam seus próprios filmes de média-metragem. Depois, em 2013, surgiu o filme Kamen Rider vs Super Sentai vs Uchuu Keiji, deixando claro quais linhagens a Toei reconhece como suas franquias, ou melhor, como universos ficcionais específicos. Os Metal Heroes voltaram a chamar a atenção do público com o projeto Space Squad, mas após somente dois filmes e um prelúdio, a ideia parece ter sido deixada de lado.


Conforme seu interesse, a Toei pode futuramente tratar a marca Metal Hero da mesma forma que promove seus outros universos de super-heróis mas, para os fãs ao redor do mundo (e especialmente no Brasil), isso pouco importa. Afinal, a linhagem, mesmo não sendo uma franquia igual à dos Kamen Riders, reúne personagens queridos e evoca um período nostálgico de produções repletas de fantasia, aventura e emoção.

Alexandre Nagado


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