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Ale Nagado

Pachinko - A Exploração do Vício

Conheça um pouco sobre o mais popular jogo de azar japonês, que está profundamente inserido na sociedade e tem ligações com a cultura pop e o mundo do crime.

Tela de apresentação de um jogo de pachinko, destacando o popular grupo AKB48.

Dentre todas as formas de entretenimento populares no Japão, uma que merece um olhar atento é o pachinko (leia "patinko"), uma verdadeira febre com milhões de jogadores. Trata-se de um jogo de azar semelhante a um fliperama caça-níqueis.


O jogador compra bolinhas de metal que são inseridas na máquina e, como em um pinball vertical, as bolinhas são lançadas e, enquanto caem, vão acionando luzes e sons que marcam pontos até chegarem ao fundo. O nome "pachinko" é resultado da junção da onomatopéia "pachin" (leia "patin"), que representa o som das bolinhas caindo e "ko", que é um termo para "bolinha". A atividade envolve mais sorte do que habilidade e o jogador ganha seu prêmio em grandes quantidades de bolinhas.


Jogos com dinheiro são proibidos no Japão, mas isso é facilmente contornável e a própria lei dá brecha para que isso não seja um grande empecilho aos apostadores. Perto de uma casa de pachinko sempre há uma loja que troca as bolinhas de metal por brindes ou até mesmo por dinheiro. Uma bolinha custa normalmente de 1 a 4 ienes, sendo que um iene dá cerca de 3 centavos de real (cotação de 24/10/2022). De tão barato, muitos se aventuram só por curiosidade e acabam fisgados.

Uma casa de pachinko, uma explosão de sons, cores e luzes. (BBC/Getty Images)

Com sua mistura sorte e estratégia, o pachinko é o passatempo favorito de milhões de trabalhadores, estudantes, donas de casa e aposentados. As casas de pachinko são ambientes barulhentos, cheios de luzes coloridas e há até pouco tempo atrás, eram ambientes fechados e com muita fumaça de cigarro. As recentes leis anti-tabagismo no Japão têm criado restrições a isso, que na verdade nunca incomodou a maioria dos jogadores.


Nas casas de pachinko, a entrada de crianças e menores de 18 anos é totalmente proibida, e a utilização de personagens infantis em algumas máquinas se dá pela nostalgia que evoca em muitos adultos. Por motivos nada românticos, jovens idols estampam muitas máquinas, servindo de fetiche em locais que as próprias retratadas não podem entrar por serem menores de idade. Seja vídeos musicais, mensagens gravadas ou mesmo shows, as idols estão presentes no mundo do pachinko, assim como heróis do animê e do tokusatsu.


As primeiras máquinas de pachinko, mecânicas, surgiram nos anos 1920 imitando similares ocidentais. Nos anos 1940, depois da Segunda Guerra Mundial, começaram a surgir as primeiras casas especializadas nesse tipo de jogo. Na década de 1980, apareceram as máquinas eletrônicas de pachinko, explorando cores e sons como nunca, o que impulsionou muito essa indústria de entretenimento.


Historicamente, essas máquinas de jogos são administradas por empresas ligadas a ramos da yakuzá, o crime organizado ou máfia japonesa. Logo que começaram a se organizar em associações criminosas por volta do século XVII, os yakuzá se dividiram inicialmente em dois grandes tipos: os bakutô (jogadores tradicionais) e os tekiyá (vendedores ambulantes). Sendo assim, os que trabalham com pachinko seriam hoje os herdeiros da tradição dos bakutô, com seus códigos de conduta peculiares. A chegada das primeiras máquinas e posterior fabricação de versões locais; bem como a abertura de estabelecimentos de jogo, passaria pela estrutura do crime organizado japonês.

Ao invés de ambientes sujos e cheirando cigarro, salas limpas e iluminadas.

Nas casas de pachinko, também existem as pachi slot machines (ou "pachislo").Nessas máquinas, o jogador deposita dinheiro e aciona um botão de roletas giratórias. Se conseguir a combinação de três ou mais figuras iguais, ganha um prêmio. Em sua origem, essas máquinas também eram mecânicas, mas no Japão de hoje as roletas são animações digitais, e tão imprevisíveis (e suspeitas) quanto as antigas. Como atrativo, uma explosão atordoante de imagens, luzes, cores e sons tornam as máquinas hipnotizantes para o público viciado em dopamina.


Segundo levantamento publicado em 2022, portanto, depois da pandemia (que atingiu duramente esse mercado), existem cerca de 9 mil casas de pachinko e pachislo no Japão. O lucro gerado por esse ramo de atividade é estimado em 30 trilhões de ienes, cerca de 205,4 milhões de dólares (cotação de 27/10/2022).


O mercado é tão lucrativo que se tornou um nicho explorado pelas empresas ligadas à cultura pop, de gravadoras a estúdios de animação. Artistas como Ayumi Hamasaki ou a banda AKB48 têm suas máquinas, onde os prêmios cobiçados são fotografias exclusivas ou a possibilidade de assistir vídeos feitos especialmente para as máquinas de pachinko.


De tão inserido na sociedade japonesa, existem até mesmo revistas de mangá com temática de pachinko, com histórias ambientadas em casas de jogos e falando sobre personagens que têm esse hobby. Títulos como Manga Pachislo Panic7 e Pachinker World surgiram para incrementar ainda mais esse universo viciante.

Caminhão com grande anúncio de uma das máquinas de pachinko estampando o grupo AKB48.

Heróis de mangá, animê e tokusatsu também são licenciados para jogos e existem muitos vídeos criados exclusivamente para veiculação nas máquinas, seja de pachinko ou pachislo.


Em muitos casos, o prêmio almejado é assistir a uma produção original para essas máquinas, sejam vídeos musicais, cenas de ação ou mesmo histórias originais em partes. Kamen Rider, Mazinger, Ace Attorney, Macross, Haruhi Suzumiya, Ultraman, Gundam... Muitos dos mais populares heróis da cultura pop japonesa estão licenciados para máquinas de pachinko e pachi slot. E ainda, existem games que simulam esses aparelhos, para que a pessoa sinta a emoção de jogar, mas na privacidade e conforto de seu lar. E sem ficar perdendo mais dinheiro.


Mas nem todos se esbaldam nesse filão ou aprovam seus métodos. Nobuhiro Watsuki, autor de Samurai X ~ Rurouni Kenshin é um que não permite que suas criações apareçam em máquinas de jogo. Ele já declarou em entrevistas que, como tem grande público jovem, não quer incentivar essa forma de entretenimento, que vicia e leva muita gente a não apenas perder dinheiro e tempo, mas também deixar atividades produtivas de lado. E esse é o menor dos problemas.


Como um fato macabro, a polícia japonesa tem diversos casos registrados de bebês que morreram asfixiados dentro de carros porque seus pais pararam pra jogar "quinze minutos" e ficaram horas sem perceber. É o lado mais trágico desse jogo viciante, que nunca foi bem visto pela sociedade, até por ser historicamente associado com o crime organizado.

Revista Manga PachiSloPanic7 (fev./2019)

Até pouco tempo atrás, as casas de pachinko eram, em sua maioria, controladas pela yakuzá, que acompanhou esse negócio desde o começo. Porém, nos últimos anos, a polícia tem agido para afastar os mafiosos desse mercado, dando espaço para empresas sem ligações com o mundo do crime. Se isso foi realmente efetivo, é difícil saber devido à discrição geral e a uma política de tolerância da polícia japonesa com a yakuzá, desde que suas atividades não envolvam violência que atinja o cidadão comum.


Esse filão lucrativo dos jogos de azar não dá sinais de saturação. Um novo segmento que tem sido explorado é o de casas de pachinko com design mais clean, áreas para não-fumantes e prêmios voltados ao público feminino. De olho nas senhoras que gostam de jogar, essas casas também lutam para mudar a imagem do mundo do pachinko. Com a pandemia, versões on-line em cassinos virtuais se multiplicaram.


Jogos de azar levam pessoas ao prejuízo, viciam e destroem vidas e famílias. Estimulam a produção de dopamina no cérebro, criando uma dependência semelhante ao uso de drogas ou consumo de pornografia, pois isso aumenta a ansiedade e a compulsão por mais sensação de recompensa imediata.


Muitas pessoas acreditam que, se o jogador consegue brincar sem se viciar, fazendo isso apenas eventualmente e por pouco tempo; é apenas mais uma forma de entretenimento, o que numa sociedade rígida como a japonesa, se resume a uma busca por catarse. Ao menos, é assim que a sociedade japonesa sempre tolerou o assunto, ignorando o potencial viciante e nocivo dessas brilhantes e coloridas máquinas.


::: VÍDEOS SELECIONADOS :::


Aqui, alguns vídeos produzidos especialmente para o mercado de pachinko, mostrando que empresas de entretenimento e estúdios possuem ligações comerciais com o mundo dos jogos de azar e muitos fãs acabam atraídos para o jogo somente pelo apelo com seus personagens ou artistas favoritos.


1) MACROSS

- A abertura da série clássica de Macross (1982), totalmente redesenhada para visualização em máquinas de pachinko em 2013.


2) AKB48

- Trailer do jogo RockStar Dolls, pachinko oficial do grupo idol AKB48, lançado em 202


3) KAMEN RIDER

- Abertura do jogo Kamen Rider: Full Throttle, lançado para pachinko em 2015.


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