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Ale Nagado

Samurai 7 - O Mangá

Uma aventura em um futuro distópico, inspirada em um clássico do cinema japonês.

A arte de Mizutaka Suhou.

"Numa época em que a humanidade havia migrado para outros planetas do Sistema Solar, aconteceu uma guerra espacial que dividiu a atmosfera do planeta Terra em duas."

- Narração de introdução do mangá.


Em um futuro sombrio e distópico, no qual a humanidade regrediu a tempos quase medievais, sobreviver é uma questão de sorte. No tempo da guerra, havia uma categoria de espadachins que empunhavam as poderosas espadas chamadas de Kataná Antitanque. Temidos e respeitados, eram chamados de "samurais", evocando o espírito guerreiro de eras remotas. Existem vários tipos de armamentos pesados, como os temíveis Benigumo ou os Raiden.

Sem emprego depois da guerra, soldados cujas mentes foram transferidas para máquinas de guerra, saqueiam e exterminam vilas inteiras. Esses bandos passaram a ser temidos como os Nobuseri, que sobrevivem saqueando vilas indefesas, roubando comida e sequestrando mulheres e crianças. Já os samurais passaram a vagar sem rumo, oferecendo seus serviços a quem pudesse pagar.


Ao invés de paz, o fim da guerra trouxe caos e medo, com a organização social regredindo séculos. Muitas pessoas se afastam das grandes cidades e criam pequenas comunidades a fim de plantar seu próprio alimento e viver em paz. Uma dessas vilas é Kanna, mas sua tranquilidade está prestes a acabar.


Tendo descoberto que em breve serão alvo de uma nova invasão de saqueadores, a sacerdotisa Kirara, sua irmã pequena Komachi e o aldeão Rikichi passam a procurar por samurais que possam proteger sua vila. Eles têm apenas comida a oferecer, tendo que apelar também para o senso de justiça dos guerreiros a serem recrutados.

O ciborgue Kikuchiyo, o equivalente no mangá ao personagem de Toshiro Mifune, no filme clássico Os Sete Samurais.

Eles logo conhecem um jovem destemido e um tanto atrapalhado chamado Katsushiro. O rapaz, querendo fugir ao destino traçado por sua família, sai sem rumo em busca de aventura e pessoas para proteger e logo se oferece para ajudar Kirara. Eles então traçam um plano para reunir samurais para proteger a vila do iminente ataque.


A cabeça de um ciborgue chamado Kikuchiyo é a primeira aquisição do grupo a ser formado. Falante, convencido e até inconveniente, ele não tem papas na língua e é quase uma consciência moral das pessoas. Ao ser encaixado em um novo corpo, aí sim ele passa a ter importância nos combates.


O primeiro samurai verdadeiro a ser recrutado é o experiente e bondoso Kanbei Shimada. A eles se juntam outros quatro, de personalidades bem distintas: Gorobei Katayama, Shichirôji, Kyuzô e Heihachi Hayashida. Apesar de não serem formalmente guerreiros treinados, Katsushiro e Kikuchiyo são incluídos no grupo, formando assim os sete samurais que irão defender um vilarejo com suas próprias vidas.


Explicado o enredo básico, vamos agora evocar a lembrança de um dos maiores clássicos do cinema japonês, no qual esse mangá é inspirado.

O pôster do filme clássico, destacando o lendário ator Toshiro Mifune.

Os Sete Samurais (七人の侍, ou "Shichinin no Samurai"), filme de Akira Kurosawa (1910~1998) lançado em 1954, contava a história de uma vila de agricultores que, para se proteger do iminente ataque de um bando de saqueadores, contrata sete homens para protegê-los. Seis ronins (samurais sem mestre) e um vagabundo se unem para o que se torna a batalha de suas vidas.


Essa é a trama básica, que é jogada para o mundo futurista descrito anteriormente. Os nomes dos personagens principais foram mantidos, bem como alguns comportamentos e situações, como o nobre salvamento de uma criança graças à ação de Kanbei. Vale também mencionar que o personagem do falastrão ciborgue Kikuchiyo corresponde ao papel que foi do icônico ator Toshiro Mifune (1920~1997). Com personagens fortes e tomadas de cena que encantaram gerações inteiras, o filme ajudou a consagrar o mito Akira Kurosawa. Muito criticado em seu país por ter muitas influências estrangeiras, Kurosawa se tornou o mais reverenciado e influente diretor japonês no ocidente.


Em Os Sete Samurais, além de dirigir, ele também assinou a história, junto com os roteiristas Shinobu Hashimoto (1918~2018) e Hideo Oguni (1904~1996). O filme rendeu várias homenagens, inspirou várias obras e teve uma igualmente aclamada versão em faroeste, chamada Sete Homens e Um Destino (The Magnificent Seven, 1960), além de numerosas citações na cultura pop. Nos mangás, o filme ganhou uma adaptação assinada pelo renomado Takao Saito (1936~2021), autor de Golgo 13.


A versão futurista chamada de Samurai 7 ["Samurai Seven"] surgiu primeiro como uma série em animê do Studio GONZO, produzida em 2004. A produção, com 26 episódios, chegou a ser exibida no Brasil no extinto canal por assinatura Animax, em 2006.

Samurai 7, a versão em animê que inspirou o mangá.

O mangá que foi lançado no Brasil pela Editora JBC em 2017 foi uma adaptação do animê publicada originalmente no Japão entre 2005 e 2007, na revista Magazine Great (Ed. Kodansha), com texto e arte de Mizutaka Suhou. Uma outra adaptação em mangá saiu na mesma época, assinada por Maiko Asano para a Furukawa Comics.


Como essa versão da Kodansha foi feita a partir de uma série de 26 episódios, os dois volumes do mangá deixaram o roteiro muito condensado, com obviamente menos desenvolvimento de personagens e situações. O que não foi de todo ruim, pois ganhou-se em agilidade nos elementos principais do roteiro, inclusive os que remetem diretamente ao filme. O mangá também tem um design de personagens bastante diferente da versão em animê, incluindo uma alteração drástica na representação do protagonista Katsushiro.

Capa do volume 2, destacando o líder Kanbei.

Vários elementos da história clássica e do animê estão lá, mas com uma abordagem mais leve e bem-humorada, sem muita profundidade e privilegiando a ação.


Como Samurai 7 é inspirado em Os Sete Samurais, associar o mangá e o animê com o nome de Akira Kurosawa foi uma boa jogada mercadológica, para dar um verniz mais sofisticado ao título. Inclusive, os outros dois roteiristas de Os Sete Samurais também recebem pelos direitos autorais da história original (ou melhor, suas famílias, já que todos são falecidos), além do estúdio GONZO, que primeiro adaptou para animê. A informação de copyright de Samurai Seven inclui os nomes de Kurosawa, Hashimoto e Oguni, o que é o correto, apesar de, para fins de marketing, somente o nome de Kurosawa aparecer nos créditos.


Finalmente, sobra um típico mangá shonen, com uma produção competente e história movimentada. Sendo em apenas dois volumes, Samurai 7 é uma boa opção para quem busca uma aventura ligeira e descompromissada.



SAMURAI 7 ~ サムライセブン


Roteiro e arte: Mizutaka Suhou

História original: Akira Kurosawa, Shinobu Hashimoto e Hideo Oguni

Tradução: Jae H. W.

Formato: 13,5 x 20,5 cm, com 208 páginas

Total: 2 volumes

Lançamento no Brasil: Editora JBC (2017)

Classificação indicativa: 14 anos - Também disponível em formato digital pela JBC (mobi/epub)



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