Novos conceitos, influências e uma nova cara para um conhecido universo de heróis.
Ultraman é um dos maiores símbolos da cultura pop japonesa, estando presente no dia a dia do povo em uma infinidade de produtos e mídias. Sua série original, produzida entre 1966 e 67, teve pico de audiência recorde de 42,8% e com média de 36%, foi reprisada inúmeras vezes e exportada para vários países. Gerou uma franquia gigantesca que se renova constantemente. Por isso, qualquer criança, jovem, adulto ou idoso no Japão sabe quem é Ultraman, mesmo que não acompanhe ou goste, pois está incorporado à cultura do país. De modo similar ao que acontece com o Superman nos EUA (e em boa parte do ocidente), alguns de seus elementos são conhecidos por ampla camada da sociedade. Assim como não é preciso gostar de HQ pra saber que o Superman se disfarça de Clark Kent e é vulnerável ao elemento kriptonita, não é preciso ser fã pra saber que o Ultraman original é um gigante que veio do espaço e lutou contra monstros para salvar a Terra. Tendo isso em mente, já é possível acompanhar ULTRAMAN (assim mesmo, grafado todo em maiúsculas), mangá de sucesso que chegou ao Brasil pela Editora JBC. UMA NOVA REALIDADE A trama se passa nos tempos atuais, quando um idoso Shin Hayata vê crescer um filho adolescente. Os dias de Hayata como membro da Patrulha Científica ficaram para trás e ele se tornou Ministro da Defesa do Japão. O que ele esconde das pessoas é que seu corpo é extremamente forte, uma condição que ele próprio não compreende e que parece um efeito colateral do tempo em que foi hospedeiro de Ultraman, décadas no passado.
O filho de Hayata, Shinjiro, é um jovem que tenta levar uma vida normal, escondendo como pode o fato de que possui força e resistência em nível sobre-humano, uma aparente herança do "Fator Ultra" presente em seu pai. Certo dia, ao tentar impressionar seus amigos e salvar uma garota, vê que não controla sua força descomunal, causando um incidente traumático. Enquanto isso, confuso sobre o tempo em que viveu em simbiose com o Gigante de Luz, Hayata começa a descobrir que seu velho amigo Ide guarda muitos segredos. Um deles é que a Patrulha Científica continua existindo, agindo secretamente para rastrear presenças alienígenas na Terra. Quando surge o misterioso ser blindado Bemular, nova e sanguinária versão do primeiro monstro da série clássica, Hayata entra em ação com um traje de combate, mas fica entre a vida e a morte. É quando seu filho aparece, trajando uma armadura ainda mais poderosa desenvolvida secretamente pela Patrulha Científica. Assumindo o nome de ULTRAMAN, Shinjiro tem que aprender a controlar sua imensa força e os poderes canalizados pela armadura. Cheia de recursos, ela é equipada com um mecanismo que dispara uma versão do Raio Spacium, a arma mortal do Ultraman original. A Patrulha Científica foi um grupo com armamentos extremamente avançados e conseguiu até mesmo destruir alguns monstros gigantes durante a temporada do Ultraman na Terra. A atual, parece ser capaz de feitos igualmente assombrosos, como a armadura dada a Shinjiro, que será seguida por outras capazes de serem usadas por humanos que não possuam o tal "Fator Ultra". Além de Ide, a nova e secreta Patrulha tem em suas fileiras Ed, um alien Zetton que passou para o lado dos humanos em sua luta contra ameaças espaciais. Shinjiro e a nova Patrulha Científica têm grandes desafios pela frente e logo outros humanos trajando poderosas armaduras irão se integrar ao enredo, como o enigmático e frio Dan Moroboshi (ULTRAMAN Versão 7) e o imprevisível Seiji Hokuto (Ace). Além deles, também deverá aparecer nas próximas aventuras o humano Jack, dono de grande força e que usa um bracelete que lembra o lendário Ultra Bracelete de Ultraman Jack.
UMA ANÁLISE SOBRE A OBRA A história se torna cada vez mais interessante com a teia de referências e é isso o que faz dela um mangá de aventura diferenciado. Isoladamente, apresenta muitos clichês na caracterização dos personagens, especialmente Shinjiro. Ainda assim, o roteiro de Eiichi Shimizu é bem conduzido, equilibrando referências e explicações sem truncar a narrativa, coisa comum em muitos títulos voltados ao público seinen (jovens adultos). A arte de Tomohiro Shimoguchi é simples, mas com um traçado solto e elegante, que se sobressai nas dramáticas cenas de ação. Visualmente, é bastante óbvia a influência que as armaduras do Homem de Ferro do Universo Cinematográfico Marvel tiveram sobre o design das Ultraman Suits A dupla já havia produzido um mangá obscuro chamado de Linebarrels of Iron e estava produzindo uma série em fanzine sobre os Kamen Riders, com abordagens bem pessoais sobre a icônica franquia. Foram ameaçados de processo pela Toei Company e pararam, voltando-se para o projeto ambicioso de reformular radicalmente os conceitos de Ultraman. Foram bem aceitos e sua série foi aprovada para licenciamento pela Tsuburaya Pro, que detém os direitos dos Ultras. O resultado é um trabalho acima da média que tem repercutido bem até mesmo fora do Japão.
Os fãs hardcore encontrarão muitas referências pra se deliciar, mas também terão que se conformar que esta é uma outra realidade, diferente das conhecidas, e que o herói agora não é mais um gigante. Publicada desde 2011 na revista para jovens adultos Monthly Hero´s (Ed. Shogakukan), ULTRAMAN se baseia na série original, em uma realidade alternativa em que somente o primeiro Ultraman veio para a Terra. E é com esse clima de continuação que a história se desenrola.
SOBRE OS NOMES E A AMBIENTAÇÃO
Na série de TV, Ultraman se funde ao humano Hayata, membro da Patrulha Científica. E aí entra uma diferença fundamental entre a versão original e a primeira dublagem brasileira, feita a partir de cópia exibida nos EUA, ainda nos anos 1960. Na versão original, Ultraman usa o corpo de Hayata enquanto a consciência dele fica em estado suspenso. No último capítulo, quando se separam, Ultraman volta ao espaço e Hayata fica na Terra, sem as memórias do tempo em que se transformava em Ultraman com a Cápsula Beta. Logo, pode-se deduzir que o idoso Hayata que apareceu nas produções modernas da Tsuburaya seja o próprio Ultraman emulando a aparência do humano Hayata, que nunca mais foi visto nos filmes e séries da franquia. [Nota: Isso é uma suposição do autor deste blog, e a Tsuburaya, até o momento, nunca esclareceu a questão oficialmente.] Ainda sobre a dublagem brasileira antiga, é de lá o nome Patrulha Científica, visto que o nome original da equipe é SSSP (Special Science Search Party), rebatizada como SIA na segunda dublagem brasileira. A versão da JBC procura se manter bem fiel ao texto original, inclusive mantendo o nome do velho Ide, que fora chamado no Brasil de Ito na primeira dublagem. Mas preservar o nome Patrulha Científica foi um presente aos fãs da velha geração.
A série conseguiu boa repercussão e acabou ganhando uma versão em animê de 13 episódios, exibida em 2019 pela Netflix. Uma nova temporada irá estrear em 2022. Além disso, a Bandai lançou figuras articuladas dos heróis, incluindo interpretações de Ultras que não necessariamente irão aparecer no mangá. Com ULTRAMAN, o mais icônico super-herói japonês ganha um mangá capaz de despertar interesse em diferentes faixas de público. A tarefa é ambiciosa, mas executada com simplicidade, muito talento e algumas boas sacadas.
Título: ULTRAMAN
Autores: Eiichi Shimizu (roteiro) e Tomohiro Shimoguchi (arte)
Formato: 12 cm x 18 cm (cerca de 200 páginas em cada volume)
Total: Ainda em andamento no Japão (17 volumes até agora)
Publicação no Brasil: JBC (desde 2015)
- Também disponível em versão digital na plataforma JBC Go Digital! - Classificação indicativa: 14 anos Site oficial (em japonês): heros-ultraman.com
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Veja também:
- Ultraman - O precursor de um universo (postagem sobre o Ultraman original)
Saiba muito mais no blog Casa do Boneco Mecânico:
Alexandre Nagado
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