Uma improvável comédia romântica para adultos, ambientada no mundo corporativo.
Shiori Katase é uma simpática e rigorosa funcionária de um escritório de marketing que trabalha com licenciamento de personagens. Shiori é delicada, feminina, prestativa e adora gatos, tanto que muitas vezes é estilizada com orelhas de gato e cauda em cenas de humor.
Sua rotina ganha novos ares quando ela é encarregada de orientar o novo funcionário da empresa, o ainda inseguro Takuya Shinozaki. Shiori e Takuya são os protagonistas da série My Tiny Senpai (título internacional), que foi lançada no Brasil como A Veterana Pitica da Firma. É mais uma comédia romântica japonesa em formato animê, com todas suas virtudes e cacoetes. No caso, os personagens são simpáticos, apesar de extremamente doces e virtuosos ao nível do exagero (sim, não esqueci que é uma comédia). A empresa onde trabalham é um reino das maravilhas, onde todo mundo se preocupa com o bem-estar alheio, agem como uma família, apesar de toda a etiqueta japonesa.
Na cultura japonesa, seja em ambiente escolar ou profissional, os novatos (ou "kohai") se inspiram nos veteranos (chamados de "senpai") para seus modelos de conduta e a eles recorrem em qualquer dificuldade. Com Takuya sempre preocupado em dar conta de suas atribuições no escritório, ele fica ainda mais desconcertado com sua superior, pois se apaixona por ela à primeira vista. E por mais que haja indícios de que é correspondido, há sempre muitos mal-entendidos e confusões entre ambos, igualmente inexperientes em questões sentimentais.
O gerente Chihiro Akina adora brincar de cupido, e assim que percebe algo entre Shiori e Takuya, começa a mexer os pauzinhos para aproximá-los mais ainda. Ele é bastante excêntrico, intrometido, mas essencialmente um homem bom e gentil.
Na mesma empresa, trabalha também a designer Chinatsu Hayakawa, uma amiga de infância de Takuya que é uma otaku sem que seus colegas saibam. Secretamente, ela é uma otaku (no sentido mais pejorativo do termo) que faz cosplay e desenha mangás amadores de temática yaoi (também conhecidos como "Boys Love"), que trazem romances entre rapazes, mas com público leitor majoritariamente feminino (e hetero). Entre ela e Chihiro há uma certa afinidade desde que se conheceram, aumentando as tensões sentimentais da história.
Outra personagem que aparece é a irmã mais velha de Takuya, a inconveniente Yutaka, que adora coisas pequenas e fofas e fica encantada com a possibilidade de Shiori - que ela vê quase como um bichinho de pelúcia - ser sua cunhada.
A série surgiu em mangá digital, sendo publicada desde 2020 no site STORIA Dash, da editora Takeshobo. Os episódios têm sido compilados em edições impressas, que são publicadas pelo selo Bamboo Comics, com seis volumes lançados até abril de 2023. A série tem uma boa popularidade, o que motivou a criação de sua versão em animê. É uma obra despretensiosa, muito longe de ser vista algum dia como um clássico ou algo diferenciado.
Os defeitos mais perceptíveis da obra são na verdade inerentes a esse gênero. Não importa se são adolescentes, ou como neste caso, adultos que estão apaixonados. Ninguém tem coragem de se declarar, encontros e desencontros acontecem mais nos pensamentos e situações engraçadas, picantes ou fofinhas envolvem coisas como "Oh, nossos braços se tocaram sem querer! OOOOH!". Ou o personagem fica vermelho por absolutamente qualquer coisa mais ousada que passe por sua cabeça.
Para a sensibilidade ocidental, obras com esse tipo de humor acabam soando excessivamente tolas e infantilizadas, a menos que se tenha familiaridade com esse tipo de comédia romântica japonesa. No caso de "A Veterana Pitica...", a obra não é engraçada como Tomo-chan is a Girl!, mas tem seus momentos divertidos.
A piada recorrente (e que se esgota rápido) é o tamanho da "senpai". Extremamente baixinha, mesmo para os padrões japoneses, ela também tem seios enormes, fazendo de Shiori uma fonte de fan service ambulante. Por trás de tudo isso, o roteiro e arte trazem a assinatura de Saisou, pseudônimo de Hajime Itsuki, um ilustrador profissional com vários trabalhos em jogos de cards e livros.
De todos os elementos passíveis de debate sobre a série, talvez o maior de todos seja o clima de absoluto conto de fadas em que o ambiente corporativo é mostrado. Todos agem como se fossem uma família, todos estão sempre felizes e se preocupam uns com os outros. E nada poderia estar mais longe da realidade do que isso.
Não há cobranças ríspidas sobre prazos, todos recebem mimos de seus superiores e o clima é acolhedor como nem mesmo em uma fábula da velha Disney seria possível. E isso lembrando que o ambiente corporativo japonês é conhecido por sua rigidez e frieza, onde protocolos sociais exigem dedicação muito maior ao trabalho do que à família, e a morte por exaustão no trabalho é tão comum que tem até um nome: Karôshi. Sobre isso, inclusive, é comum ouvir dos personagens superiores frases como "Não exagere no trabalho" ou "Nada de horas extras". O autor sabe que a realidade é cruel e mostra sua visão de que não precisava ser assim.
Com as funções de salaryman (homem assalariado, geralmente de escritório) e office lady (funcionária de escritório) tendo se tornado algo tanto temido como desprezado pelos jovens, essa série parece ter vindo para mostrar (de modo bem irreal) que ser funcionário de escritório pode ser algo prazeroso e até conduzir a um relacionamento. E a atmosfera romântica fica ainda mais acentuada no episódio 5, que aborda o Natal; pois a data, no Japão, é fortemente associada a romance. [Nota: Saiba mais aqui.] Conhecer a cultura japonesa e suas peculiaridades é fundamental para entender uma obra como essa série, toda baseada em situações de cotidiano.
O diretor Hayao Miyazaki, certa vez, falou sobre como era prejudicial o ingresso massivo de otakus na produção de mangá e animê. Ele dizia que são pessoas que escrevem e desenham sem experiência de vida, fechados em seus mundinhos imaginários. Não aprenderam a desenhar observando o real para poder estilizar de modo natural (apenas repetem clichês visuais), e também não têm traquejo social, originando histórias sem realismo nas relações humanas.
A crítica de Miyazaki cai como uma luva nessa série, mas isso não deve incomodar quem busca apenas um passatempo ligeiro. Com todos os seus clichês e previsibilidade, mais o clima açucarado em excesso, a série tem seus momentos engraçados e entrega personagens bem simpáticos.
::: FICHA TÉCNICA :::
A VETERANA PITICA DA FIRMA
Título internacional: My Tiny Senpai
Título original: Uchi no Kaisha no Chiisai Senpai no Hanashi ~ うちの会社の小さい先輩の話
Estreia no Japão: 02/07/2023 (TV Asahi e outras)
Total: 12 episódios
Streaming para o Brasil: Crunchyroll
Classificação indicativa: 14 anos
[Nota: No Prime Video, que exibe a série em outros países, a classificação é para 16 anos, bem mais adequada.]
EQUIPE DE PRODUÇÃO
Criação: Saisou
Composição da série: Mitsutoshi Sato
Roteiro: Keiichiro Ochi, Yasuko Aoki, Satoru Sugisawa
Design de personagens: Hayato Hashiguchi, Hiromi Ogata Design de adereços: Heo Hye-Jung
Story-boards: Mitsutoshi Satou, Kouji Yoshikawa, Hikaru Takeuchi e outros
Diretor de arte: Gu Lin
Trilha sonora: Junka Horiguchi
Produtora musical: Kozue Okada
Estúdio de animação: Project No. 9 Diretores de animação: Hayato Hashiguchi, Heo Hye-Jung, Masaru Yamaguchi, Chang Bum-Chul e outros
Direção geral: Mitsutoshi Sato
Produtores: Akihiko Okada, Hideo Yoshida, Jun Kimura, Kei Fukura, Kazuki Endo, Yasuhisa Ikeda, Akio Fukui, Takashi Kimoto, Mitsuhiro Ogata, Hiromi Otsuki, Yoshito Hayano
Realização: Comitê de Produção "Uchi no Kaisha no Chiisai Senpai no Hanashi"
ELENCO Shiori Katase: Hina Tachibana Takuma Shinozaki: Yuki Shin
Chihiro Akina: Nobunaga Shimazaki
Chinatsu Hayakawa: Yumiri Hanamori
Yutaka Shinozaki: Mikako Komatsu
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